terça-feira, 1 de maio de 2018

Em Veneza e em Tomar

"Veneza estreia os polémicos pórticos automáticos para limitar a entrada de turistas"


"A medida provocou as primeiras altercações entre residentes e grupos de esquerdistas, que denunciam a degradação da cidade, a qual recebe 30 milhões de visitantes por ano"

Daniel Verdú, El País online, 29/04/2018

"Depois das hordas de turistas, dos cruzeiros e da queda da população residente, alguns dizem em tom de chalaça que em Veneza já só faltam os bonecos de pelúcia para se sentirem num verdadeiro parque temático. Procurando de algum modo controlar o problema, a cidade estreou no sábado passado os novos pórticos automáticos para regular os fluxos de visitantes que acedem na alta estação às zonas mais delicadas do município, cuja lagoa já está ameaçada desde há algum tempo pela afluência descontrolada de turistas. Com os seus 50 mil habitantes permanentes, Veneza recebe anualmente 30 milhões de visitantes. Uma proporção cada vez mais nociva para a sua normal sobrevivência como urbe. Assim, o presidente da câmara, Luigi Brugnaro, decidiu mandar instalar quatro pórticos automáticos de acesso: dois na Praça de Roma, antes da Ponte Calatrava,  e outros dois antes da Igreja dos Descalços. Quando a afluência for considerada excessiva, são encerrados e só passam os habitantes permanentes, dotados de um passe electrónico.

Os polémicos pórticos automáticos, à entrada da ponte  Calatrava, também autor da Estação do Oriente, em Lisboa.

O autarca, eleito numa lista cívica independente de centro direita, e propenso a polémicas mediáticas, confessou-se muito contente com a ideia. "É a primeira vez que se tentam limitar os fluxos de visitantes em Veneza. Claramente, vamos cometer muitos erros e vamos ser muito criticados, mas por agora está  tudo a funcionar perfeitamente", declarou no passado sábado. Contudo, algumas horas mais tarde a revolta de alguns residentes e de grupos de esquerdistas já havia estalado. Um dos pórticos automáticos, instalado antes da Ponte Calatrava, foi arrancado e uns 30 manifestantes apareceram com cartazes onde se lia que "Veneza não é um reserva, não estamos em perigo de extinção".
A verdade porém é que há algo seriamente ameaçado na cidade. Enquanto prossegue o incremento das visitas turísticas -especialmente com o fenómeno dos cruzeiros, que em 2017 ali desembarcaram 2,5 milhões de visitantes- a população residente diminuiu dois terços desde meados do século passado. E ainda que as marés altas e respectivos estragos nas partes mais baixas da cidade também tenham tido a sua influência, o turismo de massa -bem como a corrosão do tecido comercial e social da cidade que implica- são os principais factores.
A população residente continua a diminuir, à média de mil residentes por ano, um ritmo alarmante
para manter o equilíbrio social. Mas os críticos contra os pórticos automáticos de acesso assinalam que Veneza recebeu 10 milhões de euros durante o mandato de Renzi, tendo como objectivo a regulação dos fluxos de visitantes de maneira engenhosa, não cortando o acesso quando é já demasiadop tarde.
A medida agora implementada por Brugnaro, em conjunto com as restrições ao acesso de navios de cruzeiro de grandes dimensões à lagoa, responde às ameaças da UNESCO de retirar Veneza da lista das cidades Património da Humanidade, se nada for feito para controlar o turismo. Desde então, a cidade tenta limitar os efeitos das chegadas massivas de turistas, que também provocaram o aumento das insolvências e arruinaram os princípios de qualidade na oferta do comércio do centro da cidade."

Tradução e adaptação de António Rebelo

Comentário de Tomar a dianteira 3

Naturalmente, esta situação  em Veneza não tem qualquer relação com Tomar. O velho dito "quando vires as barbas do vizinho a arder..." obviamente não se aplica. Veneza é lá longe. Não sejamos alarmistas.  Na próxima edição dos tabuleiros, as entradas podem continuar  sem qualquer controlo, que não há-de acontecer nada.
E tem mesmo duas enormes vantagens. Dá muito menos trabalho e permite depois dizer que foi um sucesso estrondoso, com mais de milhão e meio de visitantes, quando se calhar, bem feitas as contas, nem 250 mil terão vindo. E ainda bem, porque não iam caber. Mas a tradicional megalomania nabantina...
Há depois a enorme desproporção entre Veneza e Tomar. Na terra dos canais -a Sereníssima- já vão nos 30 milhões de visitantes anuais. Tomar ainda não chegou sequer aos três milhões, nem lá perto. O local mais visitado, o Convento de Cristo, ficou-se pelos 400 mil visitantes em 2017.
Há todavia um sector em que Tomar e Veneza se comparam -a demografia. Veneza conta actualmente 50 mil habitantes. O concelho de Tomar andará pelo 40 mil. Veneza está a perder população, ao ritmo de menos mil habitantes por ano, por causa das marés altas e do turismo. Tomar perdeu entre 2013 e 2017 2.496 eleitores. Uma média de 624 em cada ano, "porque está no interior", segundo a versão autárquica.
O jornalista do El Pais considera na notícia que perder mil habitantes/ano é "um ritmo alarmante para manter o equilibrio social". Mas isso será em Veneza. Em Tomar o ritmo de menos 624 eleitores/ano não é nada alarmante, nem exige quaisquer medidas adequadas. Enquanto os vencimentos continuarem a pingar regularmente, vai tudo bem. Fátima fica a apenas 30 quilómetros e um milagre é sempre possível.
O autor destas linhas é que continua demasiado pessimista e a dizer mal de tudo, segundo o ponto de vista dos instalados.

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