terça-feira, 8 de maio de 2018

25º Congresso da sopa

Estar por dentro, a mais de sete mil quilómetros

Abrimos com uma foto, publicada no mediotejo.net. Não para mostrar o pessoal de malga na mão. Para denunciar o triste estado da relva do Mouchão. No fundo, é mais um aspecto da decadência geral. Quem conheceu a cidade, o comércio local, a relva, a limpeza, o mercado (o movimento, não as instalações, que até melhoraram, uma excepção), há meio século, e compara desfavoravelmente com a actualidade, pode ser acusado de saudosista. Mas não pode deixar de lamentar a evidente miséria a que tudo isto  já chegou. E, se nada  adequado for feito entretanto, ainda é só o princípio do fim:


Passamos agora à comezaina -à lavadura, como escreveu logo no início o falecido Gonçalo Macedo- e ao mais que adiante se poderá ler. A prosa não é de Tomar a dianteira 3, que nunca se meteu em semelhante ajuntamento de encher a pança. Terá outros defeitos, mas esse não.

"Foi um sucesso, o que não admira. É sempre assim. Está ainda por acontecer o primeiro evento organizado pela câmara que não seja um sucesso. A começar pelos resultados completos das análises à água poluída do Nabão. Já só falta saber qual o tipo de coliformes fecais e a sua origem. Pouca coisa e ainda só passaram 3 meses.
Desta vez, até houve a participação no Congresso de produtores locais de vinho e de fumeiro, o que não foi má ideia, não senhor. O pior foi o resto. Os produtores de vinho, se já pobres eram, mais pobres ficaram. Receberam da autarquia 100 a 120 euros, mas forneceram  mais de 150 litros de vinho cada um. Houve congressistas a encher garrafas de plâstico, daquelas de litro e meio, para levar para casa. Turismo de luxo, salta à vista. Tipo acampamento do Flecheiro.
A complicar a situação, a organização não pensou em colocar frigoríficos à disposição. O que obrigou os produtores a desenrascarem-se. Vinho branco tipo caldo, não é bom para ninguém. Mesmo num congresso de caldos. No final, viu-se um festival de bebedeiras, e nem uma garrafa conseguiram vender. O lamento é geral.
Opinam estes produtores que, em futuras edições, para evitar abusos devia ser distribuída a cada congressista pagante uma caderneta de senhas específicas, para bebidas, pão, água, e café. Um total de 10 senhas para vinho e outras tantas para para pão +  água + cafés. 
Situação semelhante aconteceu com as sopas. Houve excessos de bradar aos céus. E gente que devia pagar a entrada a dobrar, ou até a triplicar. Ficavam frente às barracas a comer, não dando lugar aos outros. Quando lhes pediam para se desviarem um bocadinho, diziam logo "eu como isto num instante e depois volta a encher". Turismo de engorda, já se vê. Segundo as notícias, sete mil litros de sopas para dois mil congressistas, dá três litros e meio por mastigante. Mesmo incluindo os borlistas da praxe, É obra!
Pelas bandas dos produtores locais de fumeiro, as coisas também não rolaram sobre esferas. Forneceram os combinados 120 euros de produtos, cada um, mas apareceram congressistas que em vez de provar, levaram pães já abertos e disseram muito à vontade -"meta aqui umas fatias e umas rodelas que é pra fazer uma sandes." Turismo de encher o bandulho é que está a dar. Para o ano será melhor pendurar presuntos nos plátanos, para cada um cortar à vontade. Mas bem amarrados com correntes metálicas sólidas. Caso contrário, dez minutos mais tarde já foram.
É claro que também houve algumas novidades boas. O CIRE, por exemplo, que recebe uma parte da receita das entradas, num máximo de cinco mil euros, fez uns doces para vender, a um euro cada. Foi tempo quase perdido. A maior parte dos congressistas comeu e não pagou, justificando-se com a entrada paga. Tudo turistas de qualidade, está visto.
Na opinião de um congressista costumeiro, se o Manuel Guimarães, o iniciador do evento, cá voltasse agora, morria logo de susto. Ele que até morreu à mesa, durante um almoço. O congresso transformou-se numa coisa tão banal, tão vulgar, tão reles, que até mete dó.
Por falar em meter dó, a promoção também deixou muito a desejar. Veio a SIC, porque a Media Consulting tem de justificar a avença mensal que recebe da autarquia. Mas esqueceram-se de comunicar aos jornais. Foi o silêncio geral. Até a Lusa se absteve.
Triste sina, Severina!
Se isto é promover o turismo em Tomar, vou ali e volto mais logo, para evitar ver mais coisas tristes.
É como diz o Tomar a dianteira: Pobre terra."

Texto editado por Tomar a dianteira 3, com o acordo final do seu autor.



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