quinta-feira, 15 de março de 2018

Situações absurdas

Resultado de imagem para imagens ermida da conceiçao tomar

Se conhece relativamente bem Tomar, identifica sem dificuldade esta capela. Está na encosta, entre o Convento e a Senhora da Piedade. Construída para mausoléu de D. João III, ficou incompleta, dado a rainha viúva, Dª Catarina, ter determinado que o rei seria  sepultado nos Jerónimos. Só veio a ser concluída já no século XIX.
Gostaria de visitar? Isso já é mais complicado. A chave que em tempos esteve no Turismo municipal, encontra-se agora indevidamente no Convento. Com alguns telefonemas e um bocado de sorte, talvez consiga que um funcionário o acompanhe. Mediante "Marcação prévia em função da disponibilidade do serviço", segundo o site oficial do Convento.
Há outra hipótese, de certeza mais rápida e eficaz. Caso pretenda realizar um evento cultural na capela, seja lá isso o que for, (um casamento será um evento cultural?), bastará alugar o espaço interior por 2.000 euros/dia. Montante que passa para 2.500 euros/dia se for para uma televisão, 3.000 euros/dia se for para filmagens e 5000 euros/dia tratando-se de algo comercial. Autênticas pechinchas, como se vê, uma vez que se trata de desenvolver o turismo local. Fica por saber quem decide a natureza da coisa. Se é cultural, TV, cinema ou comercial...

Resultado de imagem para imagens alcáçova do castelo de tomar

Embora tomarense ou residente há muito no vale do Nabão, é bem capaz de não conhecer as ruínas dos Paços do Infante D. Henrique (foto de cima), nem as ruínas da alcáçova do castelo (foto de baixo). Situação normal, tratando-se de monumentos há longos anos fechados ao público, que a administração do Convento designa apressadamente por alcáçova. Para visitar, é como para a capela da Conceição. Telefonemas, alguma sorte e "marcação prévia em função da disponibilidade do serviço".
A não ser, lá está, que queira ali realizar algum evento ou filmagens. Se for o caso, aqui tem a respectiva tabela: Cocktails 1.500€/dia, Eventos culturais 3.000€/dia, Televisão 2.500€/dia, Cinema 3.500€/dia, Comercial 5.000€/dia. Mais uma série de autênticos saldos...

Resultado de imagem para imagens sala dos cavaleiros convento de cristo tomar

Conhece este magnífico salão do século XVII, com tecto em carvalho do norte, apainelado e decorado com pinturas da época? É a Sala dos cavaleiros da antiga enfermaria do Convento de Cristo, onde funcionou durante muitos anos o Hospital militar. Fica naquele torreão mais à direita, quando da cidade se olha para o castelo. Está fechado ao público desde que o hospital militar foi desactivado, há mais de 20 anos.
Para visitar, siga as instruções dadas para os locais anteriores. Para alugar é mais complicado. Só Eventos académicos a 100/250€/dia, Televisão a 2.500€/dia, Cinema a 3.500€/dia e Comerciais a 5.000€/dia. (Para mais preços e locais, consultar Diário da República, II Série, nº 122,  27 de Junho de 2014, páginas 16.649 e 16.650).
Acha tudo isto um abuso, um contra-senso, tratando-se de património de Estado, que devia estar aberto ao público, mas mesmo assim gostaria de visitar? Em relação as estes locais e à masmorra  da Inquisição, por baixo da Torre de Dª Catarina, não há volta dar. Só visitas guiadas, "mediante marcação prévia em função da disponibilidade do serviço". Quanto à cisterna do Claustro da Micha, nem isso. Nesta altura estará decerto com mais de metro e meio de altura de água.
Mas visitar o Convento sem pagar é relativamente fácil. Basta aguardar uma daquelas feirinhas que pouco ou nada têm a ver com o monumento, mas se realizam com alguma periodicidade e são anunciadas na informação local, regional e nacional. Nessa altura, é só entrar à borla, como toda a gente, pelo Claustro da Micha (fachada norte), continuar pela Cozinha, Claustro dos Corvos, Refeitório, e por aí fora. Depois pode regressar ao Claustro da Micha pelo caminho inverso ao percorrido e comprar alguma coisa na feirinha.
É um bocado absurda a actual situação, com preços proibitivos por um lado, locais fechados por outro e entradas à borla para as feirinhas no Claustro da Micha, com os turistas a pagar pelo outro lado? É sim senhor.
Mas que fazer se o povo gosta assim e a autarquia não se queixa?

Sem comentários:

Enviar um comentário