quinta-feira, 1 de março de 2018

Errar e proteger os erros

Ponto prévio

Celebra-se hoje mais um aniversário do acto fundador de Tomar -o início das obras de construção do castelo, onde mais tarde veio a instalar-se a povoação, "por nome Thomar", de acordo com a inscrição que está na escadaria de acesso à Charola. 
858 anos de vida é tempo mais que suficiente para se aprender alguma coisinha. Designadamente para fazer de tempos a tempos um balanço do nosso trabalho, reconhecer o que está mal e ter a coragem de emendar. Mas aposta-se que não é isso o que vai acontecer,  durante a habitual sessão solene.
Como habitualmente haverá discursos satisfeitos, alguns até triunfalistas. Todos garantindo que estamos no caminho certo. E estamos mesmo. A caminho do cemitério, no enterro da cidade e do concelho. Com quase todos os acompanhantes convencidos de que vão para uma festa. Com entradas à borla, é claro. E muita comezaina,  à custa dos contribuintes. Coitados, nem se dão conta de que também são contribuintes, via IRS, IRC, IMI, IA, IVA, tratamento de esgotos, resíduos sólidos, compensação energética...
Durante a longa ditadura salazarista, o tomarense e grande músico Fernando Lopes Graça não se cansou de bradar -Acordai!!!
Até agora sem resultado visível, na sua própria terra natal. Os tomarenses devem pensar que Lopes Graça e outros estão só a dar música ao pessoal.


XOXOXOXOXOXO

Para vergonha de quem saiba o que isso é, o indeferimento, com uma justificação primária, do pedido de dois lugares cativos para descarregar e carregar bagagens dos clientes dos hotéis, não é caso único. Apenas o mais recente, de uma longa série de erros de quem dirige (ou julga dirigir) o Município de Tomar. Se pensar um bocadinho, qualquer leitor mais atento consegue alinhar pelo menos uma boa meia dúzia dessas situações.
Para não alongar demasiado, vamos limitar-nos a um só exemplo. Completamente dominados pelo seu carisma fora do comum e pela sua excepcional capacidade de concepção e realização, tanto os eleitos como os funcionários superiores municipais se abstiveram de quaisquer críticas às obras de António Paiva. Os resultados aí estão, à vista de todos. Fez muita coisa útil, sem dúvida alguma. Mas também cometeu erros de palmatória.
Um desses erros, consumado já no tempo dos seus sucessores do PSD, foi o projecto de obras de acesso e de estacionamento junto ao Convento de Cristo. Da destruição de parte do alambor templário com mais de oitocentos anos, à perda das pinheiras da Cerrada dos cães, por evidente falta de medidas de protecção, houve de tudo. Fiquemo-nos pela Estrada do Convento, também conhecida como Av. Dr. Vieira Guimarães.
O projecto de requalificação dessa ex-estrada nacional foi tão bem feito, e analisado com tanto cuidado, nomeadamente por um autarca engenheiro civil, que só depois de concluída a obra se percebeu que havia um limitação grave. Antes da remodelação, os autocarros podiam passar lado a lado, depois das obras deixaram de o poder fazer, que a via ficou afinal mais estreita.

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Aspecto das obras de requalificação da Estrada do Convento. Apesar das evidências, ninguém da câmara se deu conta, nem em fase de projecto, nem durante a execução dos trabalhos, de que aquela artéria urbana ia ficar mais estreita, e que isso ia ter implicações negativas.

Houve portanto necessidade de proibir o trânsito de pesados num dos sentidos. Com aquela bem conhecida propensão tomarense para a asneira, a solução adoptada foi a pior para os turistas e para o comércio local. Os autocarros podem subir, mas estão proibidos de descer pela Estrada do Convento (ver imagem). Donde resulta que à chegada atravessam parte da cidade até alcançar o acesso ao monumento, que é o principal objectivo da viagem. Preocupados por não saberem quanto tempo vai demorar a visita, que aquilo lá em cima é sempre bem complicado, raramente param cá em baixo, pois o programa é para cumprir e as horas não são elásticas. Só quem nunca viajou em grupos organizados é que não sabe.

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De regresso ao autocarro, com os clientes desejando conhecer um pouco da urbe, e dispondo de alguma folga, o guia podia então decidir parar algures na cidade, o que seria excelente para o comércio local, pois os turistas só consomem por onde passam. Infelizmente, devido a um erro da administração local, se o guia quiser mesmo parar na cidade, terá antes de dar uma volta considerável, que representa perda de tempo e gasto de quilómetros. Além de que o estacionamento no Centro histórico não é nada fácil, se exceptuarmos dois lugares reservados na Várzea grande, que poucos profissionais de turismo conhecem. Opta portanto por seguir viagem directamente, rumo à A13 ou ao IC9.
Tal é a nefasta situação existente desde antes do início do primeiro mandato de Anabela Freitas. E há uma solução bem simples. Antes de inevitavelmente voltar a alargar a estrada, quando para tanto existir vontade e verbas, ou elaborar adequada solução alternativa, bastará mudar as placas, invertendo o sentido único para autocarros. Autorizando a descida, em vez da subida.
Pois não senhor. Já houve várias sugestões de comerciantes para a mudança das placas, mas nem pensar. Seria dar o braço a torcer. Perder a autoridade. Reconhecer o erro. Enfraquecer o poder. Enxovalhar alguns técnicos superiores municipais, mais brilhantes que o sol, mas que não viram o gato, com ele à frente dos olhos.
E mais de cinco anos volvidos, comerciantes locais e turistas continuam a ser prejudicados por uma asneira tosca da era PSD, depois agravada por uma atitude tosca e obstinada da era PS.
Tal como bem escreveu Lampedusa, em Tomar "é preciso ir mudando alguma coisinha para que tudo possa continuar na mesma". Por tal caminho, espera-nos um lindo enterro. Mas nem isso isso é garantido. Regra geral, os perdedores vão a enterrar com muito pouco acompanhamento.

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