domingo, 18 de fevereiro de 2018

É esse o caminho mas...

"Refira-se que o objectivo passa por continuar a fazer da Estalagem de Santa Iria um espaço hoteleiro pelo que haverá espaço para a elaboração de um caderno de encargos no sentido de garantir a plena e rentável utilização, tanto para o Município quanto para hipotéticos investidores."
A frase supra integra uma notícia da Rádio Hertz que pode ser confirmada aqui. Uma vez que aquela rádio regional é, de algum modo, a voz oficial da autarquia nabantina, não será demasiado considerar que o texto transcrito resume afinal a posição da senhora presidente Anabela Freitas. A ser assim, e nada indica o contrário no estado actual da matéria, trata-se do caminho correcto. Caminho certo, para usar o vocabulário da actual maioria.
Conquanto correcto, não vai ser de modo algum um percurso fácil. Para que apareçam investidores interessados num concurso público de concessão da Estalagem de Santa Iria, há necessidade antes de mais de segurança e de serenidade. Infelizmente, ao apresentar queixa judicial contra a empresa ex-concessionária, visando conseguir o pagamento dos avultados montantes em dívida, Anabela Freitas não mostrou uma coisa nem outra.
Não mostrou segurança porque se trata obviamente de uma queixa cuja única utilidade eventual será intimidar a empresa ex-concessionária, já que não se lhe conhecem bens que penhorados possam vir a ressarcir o Município. Não denotou serenidade dado que, tudo devidamente ponderado, teria sido preferível obter um mandato judicial de desocupação, em vez de tentar fazer justiça por conta própria, atitude que assusta sempre potenciais investidores. Quando vires as barbas do vizinho a arder...

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A sala de refeições da Estalagem de Santa Iria, nos anos 70 do século passado, no sentido poente-nascente. Entretanto, o recheio que se vê na imagem desapareceu quase todo, antes da remodelação. Salvaram-se os dois quadros das estações do ano, atribuídos a Arcimboldo. Se forem mesmo autênticos, valem uma fortuna das grandes. Tanto quanto se sabe, estão guardados algures, ao cuidado da câmara municipal. Que nunca os mandou examinar por especialistas, de modo a certificar tratar-se de originais ou de meras cópias de qualidade.

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Aspecto actual da mesma sala de refeições, no sentido nascente-poente

Além desta primeira barreira da confiança, há três outras a ter em conta. O projecto de remodelação, o caderno de encargos e a indispensável rentabilidade. O caderno de encargos terá de ser muito bem elaborado, mencionando em detalhe quem financiará as indispensáveis obras de remodelação e quais os diversos prazos a conceder, nomeadamente a duração da concessão e o período de carência, em que o futuro concessionário não pagará qualquer renda, para que possa recuperar o capital investido.
Quanto à indispensável rentabilidade, mesmo no actual contexto de euforia na área do turismo e da hotelaria, há que reconhecer o óbvio: Com apenas uma dúzia de quartos, a estalagem não tem qualquer hipótese de facultar sequer a recuperação do capital avançado. É um facto. E contra factos pouco adianta argumentar.
Nestas condições, só se vislumbra uma saída possível -duplicar a capacidade daquele estabelecimento hoteleiro, acrescentando-lhe mais 13 quartos. Assim dito parece fácil. E numa outra autarquia seria coisa simples. Mas estamos em Tomar.  E quem conhece o "império dos sentados",  sabe bem que se trata, pelo contrário, de algo impossível. Um autêntico crime de lesa majestade imperial. A estalagem com 25 quartos?!? O gajo endoidou com o sol brasileiro! A idade não perdoa!
E lá se vai mais uma hipótese de começar a inverter a marcha tomarense para o abismo da irrelevância. Porque nenhum investidor decente vai arriscar o seu capital sem ter qualquer hipótese razoável de o vir a recuperar. A não ser talvez o dono do Hotel dos Templários. Mas esse, se vier a ser o caso, vai decerto pôr como condição prévia a ponte pedonal Hotel-Estalagem, que já lá esteve no início dos anos 70, durante o congresso da ANP. E aí, se tal exigência vier a ocorrer, o império dos sentados vai novamente eriçar-se e mostrar a sua juba, para condicionar os eleitos.
O mais provável é por conseguinte, tendo em conta o contexto, que a vetusta Estalagem de Santa Iria passe a ser durante largos anos uma excelente reserva de ratos, até que o império dos sentados resolva mudar de mentalidade. Faça o favor de se sentar também, cara/caro leitora/leitor, que a espera promete ser demorada.
Dirão os mais optimistas que a câmara já tem algum savoir faire nesta área, uma vez que concessionou com êxito o café-esplanada do parque desportivo. Têm razão, sim senhor. Mas qual é a relação entre um simples café-esplanada e um estabelecimento hoteleiro de prestígio, de 4 ou 5 estrelas?

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