sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O convento de Cristo e os visitantes

 "Somos un servicio público. Como en un hospital, tienes que salir mejor de lo que has entrado. Tienes que haber aprendido algo y adquirir un poco de sensibilidad. Si el visitante entra, se hace un selfie y se marcha, no habremos contribuido mucho a su mejora".
Será melhor começar por verter em português este excerto, publicado no EL PAIS, da intervenção do director do Museu Rainha Sofia, de Madrid, durante um colóquio internacional patrocinado pela Louis Vuitton, que reuniu na capital francesa os directores da Tate (Londres), Moma (Nova Iorque), MACMA (Los Angeles), Centre Pompidou (Paris), Ermitage (S. Petersburgo) e Reina Sofia (Madrid):
"Somos um serviço público. Tal como num hospital, o utente tem de sair melhor do que entrou. Tem de ter aprendido algo, e adquirido um pouco mais de sensibilidade. Se o visitante entra, tira uma selfie e sai, não teremos contribuído muito para o seu aperfeiçoamento."


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Aspecto da Sacristia filipina, no Convento de Cristo

Pois é exactamente isto  que acontece com os visitantes do Convento de Cristo, desde que passou da Direcção-geral da Fazenda Pública para os sucessivos organismos dependentes da área da cultura (IPPC, IPPAR, IGESPAR, DGPC). Saem como entraram. Antes disso, havia guardas que guiavam cada grupo de visitantes, apesar de as entradas serem gratuitas. Posteriormente, os visitantes passaram a pagar à entrada e a vaguear sozinhos pelo monumento.
Claro que também há visitas guiadas. Basta reservar com dias de antecedência. O que, convenhamos, é muito prático quando se está de férias. Claro que também há áudio-guias. Desde que não estejam avariados ou indisponíveis. Claro que também há indicações escritas. Num português tão específico que grande parte dos visitantes terá a maior dificuldade para  entender.
Será isto normal num monumento Património da Humanidade, que registou 255 mil entradas em 2017, o que representa mais de milhão e meio de euros de receita?
Dirão talvez os responsáveis, à falta de melhor argumentação, que a situação é a mesma em todos os outros monumentos sob a égide da DGPC. Pois é, sim senhor. Mas não está certo, nem prestigia ninguém. E só ainda não provocou incidentes de maior, porque grande parte dos visitantes (85%, no caso de Sintra, segundo a PSML) são estrangeiros, que visitam em grupos com guias privativos, ou vêm munidos com guias escritos, coisa que praticamente não existe em português.
Afinal, o regime democrático veio para melhorar, ou para piorar as condições de vida dos cidadãos?

3 comentários:

  1. Concordo com a sua observação! Esta semana fui visitar o monumento e algumas das minhas observações são coincidentes com as suas. Estou na internet à procura de algumas informações sobre Tomar e por isso encontrei o seu blogue. E tudo piorou com o Covid. Temos umas setas no chão, podemos estar 10 minutos na Charola. Umas senhoras estavam limpar, creio que a entrada para a igreja, que por essa razão não vi, nem fui avisada de que podia ver, mais tarde, quando seco o chão. O percurso é único, temos de seguir, seguir...Mais uma vez, o Covid. Obriga a uma só entrada e uma só saída. Acho sempre que se podia fazer muito mais mas o dinheiro para estas coisas não existe. Agora outra desculpa: está tudo na internet, para quê o esforço? A cidade de Tomar é tão agradável. Já não ia desde criança e agora quero ir lá passar um fim de semana, para conhecer outras coisas. Nessa altura aproveitarei a entrada grátis do Domingo para voltar e ver o que não vi. Talvez por causa do Covid nem o equivalente a uma folha de sala nos dão, algo que possamos trazer e ler mais tarde. Já me aconteceu há uns anos quando visitei o Castelo em Lisboa. O bilhete foi caríssimo e nem um mísero papel nos deram com um sumário da sua história. Mas, se querem poupar em papel, a internet permite hoje criar e disponibilizar um mundo de recursos, até app que nos ligam ao saber atarvés do telemóvel. Mas, mais uma vez, a justificação ou a desculpa será o dinheiro? Visitei um Museu exemplar neste aspecto, o da Misericórdia, no Porto: uma senhora acompanhou-sme sem sequer eu pedir, era fabulosa, mas isso também foi, creio, um pouco excepcional. Mas até no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra nos emprestam guias plastificados, fácies de manter e higienizar, que devolvemos à saída. Creio que por vezes não é o dinheiro, é a lei do menor esforço. Repare, quantos serão os visitantes que se queixam daquilo que nos queixamos? E, por exemplo, em quantos destes lugares nos passaram um inquérito de satisfação? O quê? Era o que faltava, em férias, ainda estar a preencher um papel. Pois, mas é assim que se mede o grau de satisfação do consumidor e nós, visitantes de museus e monumentos, somos consumidores culturais. Gosto muito da cultura e há uns ano fiz até um curso de produção cultural, talvez por isso esteja mais atenta do que a maioria aos detalhes e às possibilidades. Entristece-me, a sério, esta situação pois o património, mais do que permitir-nos uma lição de história tem tanta história para contar. E as pessoas entram e saem sem as descobrir... Desculpe o texto extenso.

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    1. Terei todo o gosto em guiá-la numa visita ao Convento, mas só na segunda quinzena de Setembro, pois agora estou em Fortaleza - Brasil.
      Fui guia turístico durante muitos anos (carteira profissional nº 159)

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    2. Sr. Antonio, obrigada pela sua generosa oferta. Nao faco ideia por onde andarei em Setembro mas caso va a Tomar por essa altura, aceitarei, se tiver disponibilidade. Desculpe se o texto aparecer com imprecisoes, o teclado est]a com problemas. Ja estive a ler mais textos seus sobre o monumento e quanto mais leio mais boquiaberta fico. Tendo sido guia apercebo/me melhor da sua indignacao e tambem do cuidado que tem dedicado a este monumento. Nao sera caso unico no pais mas realmente e uma pena. Vou parar de escrever pois esta tudo a ficar cheio de erros.

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