quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Museu dos descobrimentos em Tomar?


O amigo Templário, decerto influenciado pelas suas raízes  de S. Lourenço e, sobretudo, por Sintra, o concelho onde reside, e o seu vasto património monumental, que faz dela o concelho mais visitado, logo a seguir a Lisboa, lançou o repto: Agitem-se! Reivindiquem para Tomar o Museu dos descobrimentos!
Está cheio de razão. A mais adequada localização seria em Tomar, pois como refere o coevo cronista Zurara, o senhor Infante foi pagando a empresa das navegações "com a sua fazenda e as rendas da Ordem de Cristo". Circunstância que as próprias iluminuras da época bem retratam: as velas das caravelas e naus não ostentam o escudo português, mas apenas a cruz da Ordem de Cristo, a quem pertenciam de facto.
A juntar a esses dois factos maiores, um outro se impõe. Restam no Convento de Cristo dois claustros (Cemitério e Lavagem), mandados edificar pelo infante D. Henrique, bem como as ruínas do convento velho, que são afinal aquilo que resta dos Paços do Infante, os únicos conhecidos no país onde provadamente viveu o então governador da Ordem de Cristo, a necessitar de urgente recuperação.

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Vista parcial das ruínas dos Paços do Infante D. Henrique, obtida a partir da Torre de menagem do Castelo dos templários, que mais tarde também fez parte dos referidos paços.

Seria portanto lógico que os tomarenses se "mexessem" e que o falado Museu dos descobrimentos viesse a ser instalado nos antigos Paços do Infante. Sucede contudo que muito dificilmente isso irá acontecer, devido a múltiplos obstáculos. Desde logo, porque o apelo foi lançado nas colunas de Tomar a dianteira, um blogue que deliberadamente incomoda, e que por isso raros são os que admitem lê-lo. Depois porque, em conformidade com a tradição, esse apelo caiu em saco roto, como tantos outros. Mais precisamente no salobro pântano tomarense, que tudo submerge sem ruído perceptível. Morrer sim, mas devagar e sem fazer barulho, para não afectar a tranquilidade alheia.
Há depois uma outra questão de monta: Uma vez tomada a decisão de instalar o museu, qual será o seu espólio? De onde virão os indispensáveis recursos financeiros e humanos? Perguntas pertinentes e oportunas, quando se sabe que em Tomar se fala de tempos a tempos no Museu dos Tabuleiros, enquanto o propalado "museu polinucleado da Levada", que já engoliu 6 milhões de euros, ainda não foi sequer inaugurado, nem se prevê que alguma vez o venha a ser.
Pela simples razão que, à boa maneira tomarense, meteram o carro à frente dos bois. Em vez de se preocuparem primeiro com os meios humanos e financeiros, a organização e os objectivos, foram logo para o que interessava -as obras, porque é aí que há muito dinheiro a ganhar por todos os envolvidos. O resultado aí está. De útil, aproveitam-se as coberturas e o restauro em geral. O resto terá de ser de novo intervencionado, por não dispor das condições mínimas de segurança e de adequação ao fim pretendido, o que impede a sua abertura ao público de forma permanente.
Os eventos ocasionais que a Câmara por lá vai organizando, de quando em vez, destinam-se apenas a deitar areia para os olhos dos contribuintes, porque seis milhões é mesmo muito dinheiro, nomeadamente 1,2 milhões da própria autarquia. Mas que se há-de fazer? Estamos numa cidade rica de um país rico, como se sabe. 
Para rebocar uma parede da Sinagoga, salitrada há vários anos, acabou por se avançar para obras de vulto, num total de quase 250 mil euros, financiados por um fundo norueguês e pela UE. Segundo um construtor local, (que naturalmente pediu o anonimato, porque também precisa de ganhar a sua vida), picar a referida parede, rebocar e pintar teria custado menos de 5 mil euros. Mas seriam obras de pobre, num país pobre.
É fartar vilanagem, que o saque não vai durar para sempre!
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