sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Às avessas

Dirão os usuais opinadores acomodados, também pela calada alcunhados de lorpas, que se trata apenas de um detalhe. De coisa pequena, minúscula, insignificante. Enganam-se. Se pensarem um bocadinho, concluirão que nesta vida tudo são detalhes, embora uns mais significativos que outros. Este  é dos mais significativos. Conforme a seu tempo se concluirá, espera o autor destas linhas. 
Num quintal da Rua de Pedro Dias, doado ao município pela família Tasso de Figueiredo, o actual executivo consentiu a construção de uma cabine de transformação da EDP, (agora uma empresa privada, pertencente a chineses), sem que saiba em que condições. Tal como como já aconteceu com o executivo anterior, do PSD, que também incluiu, nas obras da envolvente ao Convento de Cristo, uma cabine de transformação da mesma EDP, sem que até à data se saiba em que condições. (São questões para eventuais futuras crónicas. Sobretudo agora, que tanto se fala de viagens oferecidas por certas empresas...)
No quadro das obras para a edificação da referida cabine de transformação, a autarquia aproveitou para mandar demolir e reconstruir o muro de suporte até aí existente. Dessa demolição, resultou um considerável espólio de pedras aparelhadas, entre as quais as cantarias de uma antiga porta, eventualmente do século XVI.
De forma acertada, alguém terá decidido, ignora-se a que nível, reinstalar as ditas cantarias no muro feito de novo, dando-lhe assim um ar antigo, mais de acordo com uma parte do edificado daquela artéria urbana, onde um particular tem vindo a recuperar, do lado oposto, três prédios nos quais em tempos funcionou parte importante do alcouce da cidade. As casas das meninas.  O problema surgiu depois:


Provavelmente por acharem que ficava mais bonito assim, e decerto por ninguém lhes ter dito como fazer com correcção histórica, os trabalhadores colocaram a verga ou cabeceira da porta às avessas. Com a parte de dentro virada para fora. Conforme se pode conferir nestas fotos:




É certo que há um mau exemplo anterior, no Largo do Pelourinho:


Mesmo assim, não se entende, nem se aceita semelhante barbaridade, quando justamente se esperava o inverso. Que a competente divisão municipal -usualmente tão rigorosa- intimasse o proprietário do prédio, requalificado há pouco anos, mediante projecto antes aprovado pela autarquia, a colocar a cabeceira ou verga da porta na posição historicamente correcta, com as volutas viradas para o interior. 
Que diabo! O município dá emprego a uma catrefada de técnicos superiores, entre os quais avultam os engenheiros e os arquitectos. Só no DOM - Departamento de obras municipais, há onze engenheiros, enquanto na Divisão de urbanismo e ordenamento do território estão colocados seis arquitectos. E nenhum deles se sentiu incomodado com semelhante asneira, que vai provocar risos de escárnio dos visitantes mais esclarecidos? É preocupante.
Pobre terra que tais quadros tem!

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