domingo, 10 de setembro de 2017

Sobre o programa eleitoral do PSD

Um supermercado de propostas 

O PSD nabantino alardeia riqueza na pré-campanha. Muita gente, muita simpatia, muita alegria, muita abertura, muitas iniciativas citadinas (Carrão) e concelhias, uma imensa sede de campanha, e agora um programa de luxo, em termos de suporte, apresentação e variedade de opções.
Embora não numeradas, o que força a contagem, são 32 páginas a cores, em formato A5 e papel do melhor. O que terá decerto custado muito "papel". Quem tem unhas é que toca viola.


Quanto ao conteúdo, ei-lo muito alinhadinho logo na primeira página, a seguir à capa e contra-capa:


Escolheu-se uma das prateleiras indicadas (o que não é tão fácil quanto seria possível, devido à já assinalada ausência de numeração das páginas), a da Acção Social, obtendo-se sete propostas. Mais precisamente, cinco criações (Mercado solidário, Banco de tempo, Emprego mais próximo, Intervenção na violência, Protecção de idosos) e duas implementações: Redução do desperdício alimentar e Programa a nossa família.
Nas outras prateleiras o conteúdo é similar, sendo ainda mais abundante nalgumas delas. Na do Turismo, património e cultura, por exemplo, temos sete capítulos, intitulados Desenvolver, Dinamizar, Concretizar, Museus, Roteiros e circuitos, Empreendimentos, Eventos. Até parece que caminhamos entre as prateleiras do Continente ou do Pingo doce, tal é a fartura da oferta.
Fartura que me trouxe à memória a frase usual da minha mãe, quando eu não queria comer a sopa: "O que te faz mal é a fartura."  Também aqui parece ser o caso. Dando de barato que os políticos são como os melões, cuja qualidade só conhecemos depois de abertos, vejamos um detalhe da prateleira sobre Turismo, património e cultura: "Concretizar - Candidatura da Festa dos tabuleiros e do Centro histórico de Tomar a Património da humanidade. Extensão da classificação de Património da humanidade do Convento de Cristo ao Aqueduto de Pegões."
Indo por partes, a Festa dos tabuleiros terá de ser remodelada, mais cedo ou mais tarde, no que concerne ao seu figurino organizativo, mantendo naturalmente a sua autenticidade, de forma a passar de um sorvedoiro de dinheiros públicos a uma fonte de receita. Só depois deverá ser apresentada a referida candidatura, que vai custar caro, tendo em conta o que aconteceu e sucede com o fado ou o cante alentejano. Uma vez declarados património imaterial da humanidade, continuam com dantes a viver de subsídios do orçamento do Estado e das autarquias, em vez de serem fontes de riqueza.
Quanto aos Pegões, só a situação aberrante do Convento de Cristo, que depende de uma administração a mais de cem quilómetros de distância é que provocou o actual estado de abandono. Se até em Tomar há muita gente que não conhece o Convento e os Pegões, como querem que o pessoal da DGPC, alapado e bem pago no palácio da Ajuda, em Lisboa, ou os directores que para aqui nomeiam, saibam que o aqueduto filipino é parte integrante do principal monumento tomarense e assim cuidem dele? Não rende, não interessa. É a lógica deles, porque os aquedutos não votam, nem reclamam.
Resta a proposta de candidatura do Centro histórico a património da humanidade. Importa esclarecer que essa candidatura já foi apresentada, em conjunto com a do Convento de Cristo, em 1982, em Friburgo (Suiça). E foi rejeitada pela UNESCO, no que se refere ao Centro histórico. Segue-se que a utilidade de tal iniciativa, para além de onerosa, não é nada evidente. Como é sabido, a principal utilidade do selo "Património da humanidade" é o prestígio que faculta, o qual obriga depois os diversos organismos a agir em conformidade, designadamente na área da protecção e restauro. Além de aumentar muito a capacidade de atracção de visitantes. Nestas condições, o que salta sobretudo à vista é a manifesta incapacidade das sucessivas equipas autárquicas no sentido de tirar partido da classificação do Convento de Cristo. Não só nas entradas da cidade nada assinala o Convento de Cristo enquanto Património da humanidade, ou Património mundial, como ainda ninguém viu o óbvio. Basta usar a expressão

CONVENTO DE CRISTO -TOMAR
PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE

com esta arrumação visual, para que a cidade apareça como também classificada. E ninguém poderá proibir esse uso, por ser totalmente legítimo.
Voltando ao programa eleitoral do PSD, da sua leitura atenta ficaram-me duas ideias principais:
A - Falta-lhe um grande desígnio, um fio condutor, um objectivo central, devidamente caracterizado, uma paixão, em suma;
B - A enorme fartura nele alardeada parece ter seguido o método de arrumação usado no Lidl: Os produtos chegam em paletes e assim são propostos aos clientes, neste caso aos eleitores. Chegará para convencer? Para ganhar?
O Lidl é um supermercado sobretudo para gente pobre ou forreta. Não me consta que o PSD procure conquistar o voto dessa camada da pobre gente tomarense, que ainda não percebeu o logro. Poupam um pouco nos custos, porém acabam comprando mais que o estrito necessário, devido ao subconsciente excitado pela abundância exposta.
Tendo em conta que nas eleições a norma é um cidadão = um voto, não se enxerga o alcance da tal riqueza do programa...

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