quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Outra maneira de ver

Tudo devidamente matutado, que é como quem diz ponderado, em linguagem mais popularucha, resolvi adoptar por uma vez outra maneira de ver. Criar uma outra narrativa. Alternativa, pois então. Para tanto, abro dando a mão à palmatória. Admito que os meus habituais temas, ou cavalos de batalha, podem muito bem não ser os mais adequados, ou até totalmente inapropriados.
Custa-me dizê-lo: Só agora intuí que sinalização, estacionamento, sanitários e visitas guiadas, por exemplo, são tudo coisas a que os turistas estrangeiros estão habituados. Tanto nos seus países respectivos, quanto por esse mundo fora, salvo raríssimas excepções. Não será portanto isso que os traz a Tomar, cuja reputação é já bem conhecida, mormente nos meios profissionais.
Embora parecendo à partida pouco ou nada adequado, tendo em atenção o antes exposto, o mote de campanha de Anabela Freitas, "Tomar no caminho certo", é bem capaz de ser bastante apelativo e proveitoso.. Há o problema dos turistas estrangeiros (ainda) não votarem nas autárquicas dos países que apenas visitam, mas dê-se tempo ao tempo e passemos a um caso preciso.

Turismo selvagem em ambiente campestre numa cidade very typical indeed

Ao princípio, nos anos 60 do século passado, não era o verbo, mas um largo chamado Cerrada dos Cães, à entrada do Castelo dos Templários/Convento de Cristo, então ainda longe do Clube Património da Humanidade. O governo resolveu mandar edificar um parque de estacionamento, para evitar designadamente que os carros fossem até à escadaria à ilharga da Charola templária.
Concluídas as obras, ficou a cidade com um novo local para colocar a estátua de Gualdim Pais, (ideia logo rejeitada pelos descendentes daqueles que participaram na subscrição pública, a qual só permitiu custear uma estátua a pé do mestre de uma ordem de cavalaria), bem como uns sanitários mal localizados, porque não visíveis e ainda pior sinalizados, já então uma tradição local.
Com o passar dos anos os sanitários foram-se degradando, chegando-se ao ponto de ser uma vendedora ambulante, instalada numa  velha carrinha Citroën junto à Porta de Santiago, a encarregar-se da respectiva limpeza, a título benévolo, fornecendo também papel higiénico e toalha aos visitantes.
Chegado o 25 de Abril e as subsequentes alterações profundas, o agradecimento da autarquia tomarense não se fez esperar. A dita carrinha foi apreendida e a vendedora ambulante proibida de ali continuar. (Encontra-se agora, desde há anos, junto à porta do Claustro da Micha, na fachada norte do Convento. Mas sem carrinha.)
Como é bem sabido, os fundos europeus fizeram a fortuna de muitos e a desgraça de outros tantos ou mais. Em Tomar, António Paiva foi um novo D. Diniz. Fez tudo quanto quis, em estilo napoleónico, tipo carga de cavalaria. Na matéria que ora se aborda, eis alguns resultados, quinze anos mais tarde:

1 - As velhas instalações sanitárias foram encerradas e assim se mantêm, apesar de ter sido melhorada a ligação pedestre com os novos:


2 - Graças aos fundos europeus, foram construídos outros sanitários, mas houve falhas evidentes:
   
a) - O acesso para deficientes ou carrinhos de bébé nunca foi feito, o que implica o encerramento compulsivo até à resolução dessa carência, logo que a ASAE disso se dê conta:
  


   b) - O actual concessionário zela naturalmente pelos seus interesses, impedindo que os turistas possam chegar aos sanitários, que são públicos, sem passar por dentro da cafetaria que explora e descer as respectivas escadas:



Donde resultam estes magníficos detalhes:




Aos quais a autarquia acrescenta o toque final, não emendando atempadamente coisas que saltam à vista de todos:


Chegamos assim à antes mencionada narrativa alternativa. À outra maneira de ver. Tudo parece indicar, neste caso, que os nossos eleitos estão, no fim de contas, cheios de razão. Pelo menos no que diz respeito aos sanitários. Com efeito, se calhar cansados dos confortáveis WC de todo o ano, aos turistas sabe-lhes bem aliviarem-se assim ao ar livre, em ambiente bucólico, a olhar para um monumento Património da humanidade. A prova disso é-nos facultada pela fotografias, obtidas em 29 de Agosto de 2017. Já vêm prevenidos com papel higiénico, lenços de papel e até garrafas de água mineral para lavar as mãos.
Temos por conseguinte, e por uma vez, Tomar no caminho certo: Na liderança do turísmo very typical indeed, adorado pelos visitantes, porque nada pode compensar uma boa mijadela campestre. Assim é que é! Está explicado o actual grande incremento do turismo em Tomar. Está justificado o desaparecimento dos sanitários do Mouchão, bem como o encerramento dos WC da Cerrada dos Cães, de S. Gregório, da Rua da Fábrica e da Abegoaria municipal.
Agora só falta encerrar os sanitários da Câmara e dos SMAS, para que os funcionários vão mijar naquele matagal por cima do ParqT.  Se os turistas se podem aliviar ao ar livre olhando a paisagem, os funcionários municipais têm os mesmos direitos. Mijadelas campestres para todos já!



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