domingo, 6 de agosto de 2017

Em Barcelona grupo anarquista contra o turismo de massa assalta autocarro

"Militantes do ARRAN, um movimento que se define como "independentista, socialista e feminista" atacaram um autocarro com turistas e furaram os pneus de bicicletas de aluguer."

"Ruína do comércio tradicional, saturação das ruas, aumento exagerado das rendas de casa ...os catalães de Barcelona estão desde há muito fartos do turismo de massa. O surgimento das plataformas de aluguer de alojamentos entre particulares, como a Airbnb, e o fluxo cada vez maior de turistas, devido à instabilidade no Norte de África, no Egipto e na Turquia, provocaram um tal aumento de visitantes que leva a temer que a cidade condal se transforme num museu, numa espécie de Veneza do Mediterrâneo. [Veneza tem cinquenta mil habitantes e em 2016 recebeu em média 35 mil visitantes por dia.]
Desde há dois anos que nas paredes da cidade aparecem com cada vez maior frequência grafitos incitando os turistas a irem-se embora ou insultando-os. Procurando limitar os efeitos negativos do turismo de massa, a câmara da cidade, presidida por uma ex-militante do movimento "direito ao alojamento", Ana Colau, proibiu a abertura de novos hotéis no centro histórico, com efeito a partir de 2015 e multou Airbnb por causa dos alojamentos que não dispõem do alvará de exploração turística.

Turistas fotografando a Basílica da Sagrada Família, de Gaudi. Foto Mau Fernandez /AP

Mas os activistas de ARRAN, um grupo anarquista que se define como "independentista, socialista e feminista", consideram que essas medidas não são suficientes e que chegou a altura de passar àquilo a que chamam "autodefesa" contra o turismo de massa que, segundo eles, "destrói o território e condena os trabalhadores à miséria". No passado dia 27 de Julho, quatro militantes do grupo, com a cabeça tapada, assaltaram um autocarro de turistas nas proximidades do Camp Nou, o estádio do Barcelona.
Assustados, os turistas pensaram que era um ataque terrorista, até que perceberam que se tratava apenas de um acto de vandalismo. Os jovens anarquistas não molestaram fisicamente os visitantes, limitando-se a furar os pneus do autocarro e a grafitá-lo com a inscrição "O turismo mata os bairros típicos." Três dias depois o grupo ARRAN reivindicou o assalto, num video difundido no Twitter.
"Trata-se de uma nova maneira de protestar, tão legítima como as manifestações", justificou a porta-voz dos anarquistas do ARRAN, Laura Flores, assegurando que poderá haver no futuro "novas formas de acção em função do contexto".
Essas "novas formas de acção" não tardaram. Na segunda feira 31 de Julho, ARRAN divulgou outro video no qual se vêem membros do grupo a furar os pneus de bicicletas privadas para alugar, estacionadas em parques públicos.
No El Confidencial online, o grupo anarquista assegura que é sua intenção "fazer tudo o que é possível para animar um movimento revolucionário da Catalunha", pelo menos até ao referendo de autodeterminação que o governo regional pretende efectuar no primeiro de Outubro próximo, apesar da proibição do Tribunal Constitucional e da oposição firme do governo espanhol.
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Todos os partidos políticos, incluindo a coligação Junts pel si (Juntos pelo sim), actualmente no poder, condenaram as violências de ARRAN. A excepção notável é a Candidatura de União Popular - CUP, da qual a ARRAN é, de alguma maneira, a organização de juventude.
A CUP, formação separatista, anti-capitalista e anti-europeia, que é indispensável ao Juntos pelo sim, ao garantir a maioria no parlamento regional, que permite avançar com o referendo ilegal, já apoiou publicamente o assalto ao autocarro de turistas, que classificou como "uma acção simbólica procurando denunciar o modelo turístico predador em Barcelona". Acrescentou  que se trata de um tipo de protesto "indispensável, dada a situação actual".

Sandrine Morel em Madrid, para LE MONDE, 03/08/2017
Tradução e adaptação de António Rebelo, UParis VIII

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