segunda-feira, 5 de junho de 2017

Sobre tutela e destruição do património

O PROBLEMA É DUPLO E DE TOPO

A reportagem do programa Sexta ás 9, sobre anomalias graves no Convento de Cristo, parece ter tido, além do mais, a virtude de despertar consciências. Os deputados do Bloco de Esquerda, por exemplo, já requereram uma audição urgente do Ministro da Cultura.
Procurando ajudar na muito modesta medida das minhas capacidades, creio útil tecer algumas considerações a propósito. A primeira é para vincar que, antes das graves ocorrências durante as filmagens recentes, já houve no Convento outros desmandos tão ou mais graves, que passaram despercebidos, porque a informação tomarense preferiu o costumeiro silêncio, e a de âmbito nacional não lhes ligou peva. Se calhar porque não havia então qualquer litígio em curso entre o realizador do "Homem que matou D. Quixote" e o produtor Paulo Branco. Para que conste.
A segunda consideração destina-se a situar o problema, que me parece duplo e de topo. Duplo porque reside em simultâneo num modelo administrativo obsoleto, e tutelado por quem está a 130 quilómetros de distância. De topo, porque estou a referir o IGESPAR, um organismo no meu entender, e com o devido respeito por quem lá trabalha, pouco ou nada vocacionado para tutelar e tentar gerir monumentos, nesta altura de forte incremento do turismo, da tecnologia e da gestão turística operacional, nomeadamente devido a evidentes carências de formação dos seus técnicos superiores na área prática do turismo cultural. Estão na mesma situação da "tropa do ar condicionado" em relação à "tropa operacional", durante a nossa longa e afinal inútil guerra em África.


Um exemplo de que os atentados contra o património são recorrentes no Convento de Cristo sob a tutela do IGESPAR. 
Em 2011, durante obras pagas pela autarquia, destruíram parte importante do alambor templário, do século XII., perante a passividade conivente da então directora do monumento, que era outra, mas teve também uma atitude lamentável. Tal como agora, já nessa altura a informação local nada disse sobre o assunto. e a nacional nem dele se terá apercebido. As mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos, disse Lavoisier. 
Inconveniente como sempre, só Tomar a dianteira ousou denunciar a situação, e telefonar a quem mandava nessa altura em Lisboa, o que permitiu salvar parte do alambor.

A terceira e última consideração serve para referir que, tendo em conta o antecedente, é quase certo que a previsível e indispensável substituição quanto antes da actual directora, apenas servirá para calar alguma opinião pública.  Seja quem for que a venha substituir, será confrontado com os mesmos problemas que atormentaram os antecessores, e que evito referir aqui, por me parecer mais conveniente por agora. Tratar-se-à mais uma vez de mudar qualquer coisinha, para que tudo possa continuar na mesma. Quem me dera estar enganado!
 Para terminar: No actual contexto de atentados frequentes por essa Europa e por esse Mundo fora, as autoridades e os cidadãos devem ser informados de que, nos monumentos sob a alçada do IGESPAR, o único controle efectivo é o dos bilhetes. Uma vez paga a entrada, qualquer visitante pode levar consigo o que quiser -sacos, malas, mochilas, coletes, o que seja. Ninguém revista nem existe qualquer pórtico electrónico. Faço-me entender? Pois assim estamos. À mercê de incompetentes...e dos outros. Infelizmente.
Oxalá não estejamos aqui, algures no futuro, a lamentar uma grande desgraça, como acontece agora com as sequelas das filmagens, que podiam ter sido evitadas e não foram, por evidente incúria dos responsáveis.

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