terça-feira, 20 de junho de 2017

O perigo da abstenção bruta

Antes de mais, uma pergunta: Já votou aqui ao lado, na questão do grafito dos Velhos do Restelo? Olhe que está quase a terminar o prazo... (Para votar a partir de um telemóvel é necessário ir antes até ao final da página e clicar em "aceder à versão web", para visualizar a aplicação.)
Segue-se um esclarecimento sobre o título desta peça. Abstenção bruta = abstenção + votos brancos + votos nulos.
E agora uma justificação para a tradução seguinte. Houve um tempo em que a modernidade chegava a Lisboa pelo Sud Express, segundo escreveu Eça de Queirós. Isso já lá vai, mas no campo da política Paris ainda mostra o caminho, sobretudo à Europa do sul. Convém por isso meditar sobre alguns aspectos da segunda volta das legislativas.

"Quatro vezes mais votos brancos e nulos"
Mesmo com uma taxa de abstenção record de 56%, dos 20 milhões que foram às urnas no passado domingo, 10% votaram branco ou nulo" [Ou seja: dos 47 milhões de inscritos, só 18 milhões votaram em candidatos. Os restantes 29 milhões constituem a abstenção bruta.]


Fonte. Ministère de l'Intérieur

Quanto mais escuro, maior percentagem de votos brancos e nulos. Aveyron fica cá em baixo,  na segunda fila de  manchas pretas a partir da fronteira espanhola.

"Representando apenas 2% na primeira volta, os votos brancos e nulos explodiram na segunda volta, representando 9,87%. Não incluídos nos votos expressos, passaram de 513 mil para perto de 2 milhões (1 milhão 990 mil) da primeira para a segunda volta, apesar da abstenção de mais de 3 milhões de eleitores em relação à primeira volta.
O record absoluto de votos brancos e nulos foi estabelecido na 2ªcircunscrição do Aveyron, (ver mapa) com 32,45% entre os 23 mil votantes. Na primeira volta os brancos e nulos tinham ficado pelos 2,3%.
Tratou-se de um caso raro, porque o candidato que ficou em segundo lugar anunciou a sua desistência antes da segunda volta. Contudo, no conjunto do território nacional, mesmo na metrópole, ao contrário do sucedido na primeira volta, há muitas secções de voto largamente acima dos 10% de brancos e nulos

Pierre Breteau, Le Monde online, 19/06/2017

Nas autárquicas de 2013, conforme não é geralmente conhecido, em Tomar os votos brancos e nulos chegaram aos 8,92%, mas ultrapassaram os 10% em Casais/Alviobeira - PSD (10,91%), Olalhas - PSD (10,46%) e Madalena/Beselga - PS (10,15%).
Pior só mesmo no concelho de Ourém, com Fátima - PSD  a registar 11,37% de brancos e nulos. Um novo milagre de Fátima? Nem por isso. Coimbrão - PS , no concelho de Leiria chegou aos 16.45%, logo seguido por  Marrazes/Barosa - PS com 15,39 e Monte Real - PS, com 15,38%. A própria área urbana leiriense -PS- alcançou 14, 37% de brancos e nulos. O que dá uma impressionante taxa de abstenção bruta de 67,5%. Em cada 100 eleitores inscritos, apenas 32 escolheram um candidato!
Perante tais resultados, que ferem gravemente a legitimidade dos eleitos, os seis candidatos já conhecidos em Tomar que continuem, como até agora, sem se preocupar com explicações detalhadas ou programas, e depois queixem-se. Cá conto estar para lembrar -Bem vos avisei em tempo oportuno!

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