sábado, 10 de junho de 2017

Álbum de recordações

Recordações do album de Tomar a dianteira:

No ensino secundário ensinava-se de Camões sobretudo os Lusíadas, mas também os seus sonetos. Um dos mais populares era então este, num país onde pouco ou nada mudava:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
Muda-se o ser, muda-se a confiança: 
Todo o mundo é composto de mudança, 
Tomando sempre novas qualidades. 

Continuamente vemos novidades, 
Diferentes em tudo da esperança: 
Do mal ficam as mágoas na lembrança, 
E do bem (se algum houve) as saudades. 

O tempo cobre o chão de verde manto, 
Que já coberto foi de neve fria, 
E em mim converte em choro o doce canto. 

E afora este mudar-se cada dia, 
Outra mudança faz de mor espanto, 
Que não se muda já como soía. 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" 

Quatro décadas mais tarde, tudo muda, a uma cadência cada vez mais acelerada. Eis um exemplo bem actual:


 A capa reproduzida é de Dezembro de 2015

E então, qual é o problema, perguntarão alguns. Se problema há será de consciência e afectará unicamente quem a tenha. É, no entanto, sempre útil meditar estes versos de Rudyard Kipling:

Se és capaz de conservar o teu bom senso e a calma, 
Quando os outros os perdem, e te acusam disso, 


Se és capaz de confiar em ti, quando de ti duvidam 
E, no entanto, perdoares que duvidem, 



Se és capaz de esperar, sem perderes a esperança 
E não caluniares os que te caluniam, 



Se és capaz de sonhar, sem que o sonho te domine, 
E pensar, sem reduzir o pensamento a vício, 



Se és capaz de enfrentar o Triunfo e o Desastre, 
Sem fazer distinção entre estes dois impostores, 



Se és capaz de ouvir a verdade que disseste, 
Transformada por canalhas em armadilhas aos tolos, 



Se és capaz de ver destruído o ideal da vida inteira 
E construí-lo outra vez com ferramentas gastas, 



Se és capaz de arriscar todos os teus haveres 
Num lance corajoso, alheio ao resultado, 
E perder e começar de novo o teu caminho, 
Sem que  ouça um suspiro quem seguir ao teu lado, 



Se és capaz de forçar os teus músculos e nervos 
E fazê-los servir se já quase não servem, 
Sustentando-te a ti, quando nada em ti resta, 
A não ser a vontade que diz: Enfrenta! 



Se és capaz de falar ao povo e ficar digno 
Ou de passear com reis conservando-te o mesmo, 



Se não pode abalar-te amigo ou inimigo 
E não sofrem decepção os que contam contigo, 



Se podes preencher todo o minuto que passa 
Com sessenta segundos de tarefa acertada, 



Se assim fores, meu filho, a Terra será tua, 
Será teu tudo o que nela existe 



E não receies que te o tomem, 


Mas (ainda melhor que tudo isto) 
Se assim fores, serás um HOMEM. 



Rudyard Kipling 

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