sábado, 20 de maio de 2017

Um dó de alma

Tal como o algodão do célebre anúncio, as imagens não mentem, desde que não sejam deliberadamente modificadas, de forma a enganarem mesmo. Não é o caso. Por conseguinte elas aqui vão:



Indo o turismo em Portugal de vento em popa, governo e autarcas não se cansam de dizer ou de dar a entender que graças a eles... quando afinal na prática nada têm a ver com tal sucesso. A presente conjuntura internacional, sobretudo a ameaça terrorista nos países tradicionalmente grandes receptores de turistas, bem como nos países muçulmanos, estão a ajudar-nos poderosamente. Mas esse maná não vai durar sempre, sobretudo caso se insista em práticas que já demonstram a sua inoperância e são um verdadeiro dó de alma aqui em Tomar.
Atente-se nos três casos acima documentados. Na Nazaré, a autarquia tem sabido aproveitar as ondas fora do comum do canhão homónimo, que facultaram um recorde mundial a MacNamara. Em Alcobaça, colocaram antes do topónimo o logotipo de Património Mundial da UNESCO, uma vez que o respectivo mosteiro está classificado como Património da Humanidade.
Ao invés, em Tomar ficam-se por um envergonhado e pouco legível "Cidade Templária", com um estranho ícone muito semelhante a uma bolota, que afinal reproduz um quarto da cruz templária com um acento circunflexo inclinado, no ângulo superior direito. Não só tal iconografia é infeliz e nada apelativa, como está mal colocada (devia estar ao alto, antes do topónimo) e nem sequer corresponde à realidade factual. 
Tomar nunca foi cidade templária, porque quando foi elevada à categoria de cidade, em 1844, já as ordens religiosas militares -entre as quais a de Cristo, sucessora em Portugal dos Templários- tinham sido extintas dez anos antes. Por conseguinte, para respeitar a verdade histórica, convirá usar o dístico "Tomar - Capital Templária". Exactamente aquilo que ela foi durante sete séculos. E nada obsta, antes tudo aconselha, que se use igualmente o logotipo do Património Mundial da UNESCO, seguindo o exemplo de Alcobaça, uma vez que o Convento de Cristo, tal como o mosteiro alcobacense,  integra a lista do Património da Humanidade desde os anos 80 do século passado, não constando que fique fora de Tomar.
Ia a acrescentar que, igualmente em Alcobaça, os autarcas de serviço arranjaram maneira de os turistas chegarem ao mosteiro após terem atravessado parte da cidade a pé, como convém aos comerciantes, pois assim...  Para quê afinal? Em Tomar, para os senhores dos Paços do Concelho, importante, mesmo importante é transformar a Várzea grande numa praça, para fruição dos habitantes que ela não tem. Os turistas e os comerciantes que se desenrasquem. 
Como sempre tem acontecido, quando sapateiros se metem a tentar tocar rabecão, só muito raramente sai música aceitável. A maior parte da vezes é um verdadeiro dó de alma. Como neste caso.
Depois queixem-se que a população concelhia continua a escapulir-se, em busca de melhores ares.

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