segunda-feira, 8 de maio de 2017

O bodo aos pobres pago pelos próprios

"Sem ofensa, que não é de todo a minha intenção: olho para o vago e demagógico discurso, em matéria económica e social, de Marine Le Pen durante o debate com Macron, e não vejo nenhuma diferença essencial com o discurso do nosso PCP e, em grande parte, com o do Bloco de Esquerda. É a mesma crença nos amanhãs que cantam do proteccionismo, do regresso à "moeda do povo", do fecho das fronteiras, da perseguição fiscal às importações (sem temer as correspondentes represálias sobre as exportações), a supremacia do Estado sobre as empresas, o aumento do número de funcionários públicos, a diminuição do número de horas de trabalho e o abaixamento da idade da reforma, não explicando como é que isso se consegue sem aumentar as contribuições sociais e os impostos, ou baixar o valor das pensões."

Miguel Sousa Tavares, Expresso, 06/05/217

Podendo parecer que não, esta citação do jornalista Miguel de Sousa Tavares, põe em evidência o principal problema português.  A extrema-esquerda e com ela a quase totalidade da informação portuguesa, cujos jornalistas foram em grande parte formatados por docentes ideologicamente próximos do PCP ou do BE, insistem em fórmulas políticas que na prática nunca resultaram. A crónica citada não o refere, mas para comunistas e bloquistas o que é bom para os funcionários é bom para o país e o que pretendem os empresários é péssimo para Portugal. Exactamente o oposto do que sucede nos países situados da França para cima.
Descendo do nível nacional para o local, topa-se que em Tomar a mentalidade dominante é semelhante. Vamos gastando que alguém há-de pagar, vão pensando os nossos brilhantes autarcas. Não consta que alguma vez lhes tenha aflorado ao espírito que a Câmara devia procurar quanto antes fontes de receita fora do bolso dos contribuintes.


A prova de que assim é reside no facto de sucessivamente a autarquia ir eliminando com método tudo o que lhe poderia proporcionar algum valor acrescentado. Receitas, para simplificar. O ex-estádio tinha capacidade para alguns milhares de pessoas e portanto para gerar milhares de euros de entradas. Mediante um despesa da ordem dos milhões de euros, destruíram essas bancadas e até os balneários. Para quê? O Parque de campismo também proporcionava uma receita anual significativa, mas foi vítima do plano Paiva para acabar com ele. Para quê? O cine-teatro rendeu bom dinheiro enquanto foi privado. Comprado pela autarquia por um preço exorbitante, nunca mais rendeu um cêntimo. Só tem custos. Porquê?
Todos conhecemos o caso do ex-Convento de Santa Iria e das ruínas do outro lado da rua. Comprado aquele e usurpadas estas, par ali estão, aguardando algum autarca com coragem e ideias arejadas, coisa rara pelas bandas de Tomar. É também do conhecimento geral o logro dos Lagares da Ordem, na Levada. Após 6 milhões de obras, praticamente não servem para nada, a não ser para ocupar pessoal e aumentar a despesa camarária com limpeza, manutenção, técnicos, energia eléctrica.
Formatada nessa tal ideologia, segundo a qual o que é bom para os funcionários é bom para o Estado e o que é bom para o Estado é bom para os cidadãos, Anabela Freitas resolveu virar-se neste final de mandato para a requalificação da Várzea Grande. Não vou bater mais na ceguinha. Apenas lembrar que a única justificação dada para tanto empenho foi a candidatura aos fundos europeus.
Mais uma asneira de todo o tamanho, que vai forçosamente castigar, directamente ou não, os já tão causticados contribuintes do concelho, porquanto mesmo com os fundos europeus, a autarquia terá que contribuir com 20%. Como sucedeu na Levada, em que a Câmara pagou 1,2 milhões de euros e agora aquilo para pouco ou nada serve. E jamais virá a gerar receitas significativas.


No caso das obras na Várzea Grande, (cujo custo ainda ninguém conhece, porque a autarquia ainda o não difundiu), uma vez concluídas, terá sido mais dinheiro deitado ao rio, porque dali não virão quaisquer receitas. Nem sequer os tradicionais terrados da feira de Santa Iria, entretanto transferida para outro lado, embora ainda nem sequer se saiba para onde.
E no entanto, se houvesse uma linha directora, uma sequência de ideias devidamente estruturadas, um plano digno, em suma, a Várzea Grande podia propiciar importantes verbas anuais. Bastava fazer o tal grande parque de estacionamento subterrâneo e complementar com as indispensáveis posturas. Mas isso seriam lucros. Avultados, ainda por cima. E para a extrema-esquerda, que está convencida que nos governa, lucros?!? Que horror! Isso é um roubo. E os empresários são todos uns tipos da pior espécie. Dinheiro bom, honesto, só do bolso dos contribuintes, via orçamento do Estado. E vá lá, dos fundos europeus, enquanto não ocorrer o desejado portexit.
Depois queixam-se que a economia local não cresce, que não há emprego, que falta investimento e que os tomarenses são cada vez mais numerosos a dar corda aos sapatos. Por estas e por outras, os nossos simpáticos e bem intencionados autarcas trazem-me à memória aquele lenhador distraído (ou lorpa?) que, sem disso se dar conta, serrou o ramo no qual estava sentado. E não sobreviveu à queda.
É o que acaba de acontecer em França, em sentido figurado, com a derrocada dos partidos tradicionais, entre os quais o PS, e a humilhante derrota, logo na primeira volta, de Mélenchon e das suas ideias messiânicas, sem cabimentação orçamental possível.

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