domingo, 7 de maio de 2017

É tudo gente séria...

Um dos grandes temas da campanha presidencial de Marine Le Pen foi a sua proposta para a saída da França da União Europeia. Um frexit após o brexit. Afinal, vai-se a ver, tanto ela como o pai, Jean Marie Le Pen, são deputados no Parlamento europeu. Em que ficamos? São contra Europa, mas a favor do Parlamento europeu? Não se entende. Ou por outra, percebe-se muito bem.
Ainda por cima, o diário parisiense Libération publicou, no passado dia 5 (ver ilustração), uma notícia pouco ou nada abonatória para o fundador da Frente Nacional:


"Jean-Marie Le Pen comprou com verbas do Parlamento europeu 8.500 euros de vinhos de marca"

"Apesar das regras muito estritas nessa matéria, Jean-Marie Le Pen conseguiu pagar com verbas dos contribuintes europeus 129 garrafas de vinho, entregues na sua residência de Montretout, em Saint-Cloud [arredores de Paris] noticia Mediapart."

"Presidente honorário da Frente Nacional [e eurodeputado], Jean-Marie Le Pen terá pago com dinheiro do Parlamento europeu 8.500 euros de vinho, notíciou na passada sexta-feira Mediapart. De acordo com uma factura de um negociante de vinhos do 1º bairro de Paris, datada de 28 de Dezembro de 2016, o deputado europeu teria encomendado 129 garrafas de grandes vinhos, entre os quais château-pomerol, saint-julien e saint-émilion, mas também garrafas de champanhe, nomeadamente de don pérignon, que foram entregues na sua residência em Montretout-Saint Cloud [arredores de Paris].

Jean-Marie Le Pen no comício de Palavas-les-Flots, em 21/01/17 - Foto Pascal Guyot .AFP

Para contornar as restrições em vigor, Jean-Marie Le Pen teria recorrido a verbas de fundos públicos colocados à disposição dos parlamentares europeus. Havia porém um problema. Essas verbas, teoricamente só devem servir para despesas de secretariado ou para "actividades políticas e de informação", estando enquadradas por um regulamento muito estrito. Devem, por exemplo, corresponder a compras de artigos promocionais nos quais deve figurar o ícone do Parlamento europeu, ter sido validadas pelos serviços do parlamento antes de fazer a respectiva encomenda, e não ultrapassar os 100 euros por cada produto.
Para contornar tais controles, Jean-Marie Le Pen teria pedido ao negociante de vinhos para acrescentar nos rótulos das garrafas encomendadas etiquetas especiais ligadas às suas actividades em Bruxelas, o que foi feito, conforme confirmou a Mediapart, sem mais detalhes. Terá também baixado os preços dos vinhos, para que não ultrapassassem o limite previsto pelo Parlamento europeu? Não se sabe. Mas os competentes serviços do Parlamento europeu já iniciaram verificações sobre o preço usual dos vinhos mencionados "tanto mais que os preços afixados na página internet do negociante são muito mais elevados" do que na factura passada, segundo Mediapart, que acrescenta que se Jean-Marie Le Pen prevaricou em relação às regras do Parlamento europeu, pode-lhe ser exigido que reembolse a soma em causa.
Quanto aos vinhos, não se sabe para que serviram, se foram bebidos, ou sequer se foram mesmo entregues."

Libération online, L'oeil sur le Front, 05/05/2017

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