sábado, 15 de abril de 2017

"É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima."

Haja calma. A afirmação não é minha, como de resto indicam as aspas que a acompanham. É do padre Anselmo Borges, doutor em filosofia e professor na Universidade de Coimbra. E tem uma tripla relação com Tomar. Por um lado, sendo os peregrinos uma importante fonte de visitantes para a nossa cidade, qualquer novo elemento que possa vir a causar alterações importantes na actual situação, interessa forçosamente aos tomarenses. Por outro lado, o Santuário de Fátima é aqui ao lado. Somos vizinhos. Em terceiro lugar enfim, porque o padre Anselmo Borges viveu muito anos em Tomar. Foi professor no Seminário das Missões, que funcionou durante décadas na parte poente do Convento de Cristo.
Tão polémica e inesperada afirmação faz parte de uma entrevista, a propósito do próximo lançamento do livro Francisco: Desafios à Igreja e ao Mundo, da autoria do padre Borges. Está publicada no semanário EXPRESSO, na sua edição desta semana. Para o caso de você não desejar comprar a edição papel, nem poder aceder à edição online, por não ser assinante, seguem-se alguns excertos, que pareceram mais esclarecedores.
"Fátima é um caso muito especial de religiosidade. A Igreja Oficial tenta enquadrar Fátima, mas as pessoas vão lá com uma devoção particular. Posso ser um bom católico e não acreditar em Fátima, porque não é um dogma. Não me repugna, contudo, que as crianças, os chamados pastorinhos, tenham tido uma experiência religiosa, mas à maneira das crianças e dentro dos esquemas religiosos da altura [1915-1917]. É preciso também distinguir aparições de visões. É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima. Uma aparição é algo objectivo. Uma experiência religiosa interior é outra realidade. É uma visão. O que não significa necessariamente um delírio. Mas é subjectivo. É preciso fazer esta distinção. E por isso digo que é necessário evangelizar Fátima, ou seja, trazer uma notícia boa. Porque mesmo para aquelas crianças, aquela não foi uma notícia boa. Que mãe mostraria o inferno a uma criança?
-Que notícia seria essa?
-Já não se vêem pessoas a arrastarem-se e a sangrarem.
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O Papa vem a Fátima em primeiro lugar porque é profundamente devoto de Maria. Sabe porque há tanta devoção a Maria na Igreja? Porque a presença feminina é muito reduzida. As mulheres têm de gostar de Jesus -mesmo que se dêem mal com a Igreja oficial e têm razões para isso- porque ele teve mulheres como discípulas e foi uma figura central da emancipação feminina, embora a Igreja seja completamente masculina -Pai, Filho e Espírito Santo- e uma menina faça a socialização religiosa sempre no masculino.
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Já tive problemas com a hierarquia por defender estas posições. Hoje não. Não gostavam do que eu dizia, mas eu também não gosto do que dizem."



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