quinta-feira, 30 de março de 2017

Pôr o carro à frente dos bois - 2

A letra é bem conhecida, mas nem sempre bem meditada: "O Mundo pula e avança/ Como bola colorida/ Entre as mãos de uma criança". Noutros termos, as sociedades evoluem e nem sequer conseguimos a maior parte das vezes modelar minimamente essa evolução. Nesta altura, em Portugal e em Tomar, dois dos fenómenos mais evidentes e importantes dessa evolução são a expansão do automóvel e o extraordinário crescimento do turismo receptivo. Assim sendo, urge adaptar-se a essas tendências, de forma a delas retirar todo o proveito possível. 
Sou um leigo em urbanismo, mas sei alguma coisinha em matéria de turismo, tanto no aspecto teórico como prático. O que me permite ter há muitos anos um plano de desenvolvimento turístico para a minha terra.
Esse plano, que outros centros urbanos já começaram a implementar (Alcobaça, por exemplo), tem por base o chamado "modelo aeroporto". Para os menos versados nestas coisas do turismo e das viagens, o modelo aeroporto consiste em transformar cada estrutura aeroportuária num imenso mercado, graças à passagem induzida de todos os passageiros por centenas de lojas, entre o local do check-in e a porta de embarque.
No caso de Tomar, cidade riquíssima em património, mas paupérrima em inovação e adaptação aos novos tempos, o problema a resolver é, no meu entender, extremamente simples. Linear mesmo. A nossa principal atracção é, de longe, o Convento de Cristo. Acontece que a esmagadora maioria dos visitantes daquele monumento Património da Humanidade, (250 mil em 2016) nem sequer vêm à cidade. Além de criarem já múltiplos problemas relacionados com a falta de estacionamento, durante a estação alta. (Ver foto e respectiva legenda)
Um adequado e eficaz plano de desenvolvimento do turismo local deve portanto tentar resolver esses dois problemas. O dos turistas que pagam a entrada no Convento, mas não descem à cidade, e o da cada vez maior falta de estacionamento. Nas suas grandes linhas, o plano que tenho e proponho é este:
1 - Construção de pelo menos dois parques de estacionamento de grande capacidade, nas entradas da cidade. Um subterrâneo, com dois ou três níveis, na Várzea Grande, para acolher os visitantes vindos da A23 via A13. Outro à superfície, na baixa da Quinta da Anunciada, para os provenientes do IC9.
2 - Instalação de escadas mecânicas subterrâneas, entre o ParqT e o parque de estacionamento junto ao castelo, com ascensor lateral para deficientes.
3 - Alegando problemas ambientais, de segurança e de falta de  estacionamento, proibição de acesso motorizado à zona do Castelo/Convento, logo que as escadas rolantes estejam a funcionar, excepto para os moradores, veículos de urgência ou cargas e descargas.

Resultado de imagem para fotografias parque de estacionamento do convento de cristo
Estacionamento junto à fachada norte do Convento de Cristo, antes das infelizes obras paivinas. Agora a situação é bem pior, pois já não se pode estacionar do lado esquerdo e do lado direito há apenas 6 lugares para autocarros de turismo, por vezes forçados a irem estacionar para as proximidades do Casal de Santo António, no entroncamento com a estrada Venda da Gaita - Algarvias. Visite Tomar, que será bem recebido.

Nestas condições, o que agora se propõe para a Várzea Grande tem apenas dois aspectos favoráveis: A - O corte de todas as árvores existentes, excepto as que ladeiam o Palácio da Justiça; B - A mudança do monumento ao soldado desconhecido. Tudo o resto pode ir para a gaveta, sobretudo por ser fantasista , estar muito mal explicado e pior escrito, mas também por estar destinado ao camartelo, logo que se comece a fazer, "a céu aberto", o inevitável parque de estacionamento de grande capacidade. Pode pois afirmar-se que se trata de um projecto prematuro e pouco útil nas circunstâncias actuais.
É no que dá imaginar iniciativas desgarradas, basicamente para apresentar obra e sacar dinheiro a Bruxelas. Sem querer, coloca-se o carro à frente dos bois. Como de resto já aconteceu na Levada. Gastaram-se 6 milhões de euros e onde estão os prometidos três museus, que depois já eram só um museu polinucleado? Quando e se alguma vez abrirem, qual será a sua rentabilidade? De onde virão as verbas para os manter? Tudo questões básicas que deviam ter sido debatidas e respondidas antes de se gastarem os ditos 6 milhões de euros. Se em Tomar houvesse uma opinião pública bem formada e informada. Agora assim... ficam-nos as obras à tomarense, cuja utilidade não é nada óbvia.

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