quinta-feira, 2 de março de 2017

Como é possível semelhante enxovalho?

Muito desconfortável, incomodado e triste. É assim que me sinto desde a tarde de ontem. Após duas leituras disto, que considero uma nódoa. Como é possível?!? José Gaio é um cidadão respeitado e competente, com provas dadas no jornalismo regional. E um democrata, sem sombra de dúvida. Como pode ter publicado semelhante esfregão, que tresanda a nazismo e ultramontanismo, para mais sob nome suposto?
Provavelmente assoberbado com o blogue e, em simultâneo, com a sua actividade profissional remunerada, não terá tido tempo suficiente para ponderar. Só pode. Porque, entre outros problemas graves, o vesgo texto em questão é claramente anti-semita: "Mas em Tomar... ... ...é mais fácil encontrar quem nos governa numa sinagoga, do que a vinte metros da porta duma igreja." As leis em vigor proibem e punem  a publicação de tal tipo de mensagens, mesmo perifrásticas, como é o caso. É verdade que Anabela Freitas já visitou Israel, no âmbito das suas funções, mas isso não faz dela uma crente judaica. E que fosse. A República portuguesa é laica e reconhece a todos a liberdade de religião. Mas não é. Trata-se portanto de uma abjecta falsidade caluniosa, com claro intuito inquisitorial e eleiçoeiro: "é simpatizante sionista e pouco amiga da igreja católica, logo deve ser condenada e não merece portanto o seu voto".

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Foto O Mirante, com os agradecimentos de TaD3

Além desse odioso aspecto, a nódoa em causa padece de chagas de diversa natureza. A começar pelo título, sem dúvida capcioso. Na realidade, a matéria abordada não se refere às relações entre "A Câmara Municipal de Tomar e a Igreja", que sempre foram e se mantêm cordatas. Assim sendo, mais apropriadamente, o título deveria ser "A presidente da Câmara de Tomar e a Igreja Católica", o que daria logo outra orientação à narrativa. Nem a presidente é toda a Câmara, que conta com mais 6 membros, eventualmente com posicionamentos diferenciados, nesta como noutras matérias; nem a igreja católica esta sòzinha na área religiosa. Há outras igrejas. Umas mais modernas e liberais, outras mais retrógradas e inquisitoriais, mas todas, incluindo a católica, com iguais direitos e igual estatuto perante a lei, ao contrário do que pretende insinuar a sinistra prosa. Que enferma outrossim de um posicionamento de índole jesuítica. Numa linha afirma que "A Câmara Municipal convidou toda a população a participar!", com ponto de exclamação e tudo. Na linha seguinte diz que "Não há convite da edilidade para que os párocos deste concelho participem nas cerimónias oficiais."
Em que ficamos afinal? Os párocos não fazem parte da população do concelho, que foi toda convidada a participar? Pretende-se um retorno aos tempos do clero, nobreza e povo, com convite especial para o clero? A que título?
Para não alongar, uma vez que qualquer texto só diz aquilo que o leitor nele lê, neste triste caso o que eu li e me obriga a defender a honra e dignidade da presidente da Câmara da minha amada terra, que tanto tenho atacado politicamente, foi o seguinte:
1 - A prosa acastanhada em questão foi escrita por um membro do clero concelhio, ou por alguém por ele aconselhado.
2 - Pretende o dito escrito retaliar, pelo facto de Anabela Freitas não frequentar a igreja e não ter concedido qualquer subsídio camarário para as obras exteriores de S. João e Santa Maria, mas ter conseguido verbas importantes para o restauro da Sinagoga, que "de facto" é propriedade do Município, enquanto que os templos antes citados pertencem ao Estado e são tutelados pela DGPC - Ministério da Cultura, a quem compete o restauro e manutenção.
3 - Ao procurar vingar-se assim, de forma soez, do posicionamento religioso da presidente da Câmara, que manifestamente lhe desagrada, está o autor do alinhavo, de forma encapotada e canhestra, a obrar em prol da candidatura de Luís Boavida, ex-aluno da Universidade Católica e proclamado católico praticante, conforme referiu na entrevista ao Cidade de Tomar. Que não merece todavia este tipo de apoio, susceptível de levar os eleitores tomarenses a pensar que se trata de um católico ultramontano, o que não me parece que seja o caso, pois até citou na já referida entrevista o papa Francisco. A última frase do lamentável texto não deixa qualquer dúvida a esse respeito: "Em Tomar a justiça será a dos homens!"
Numa altura tão agitada e estando eu tão longe, até pode suceder que esteja a interpretar mal o dito borrão. Redigido por quem levianamente até refere "esta autarca com aversão ao divino." Foi o Senhor que lhe soprou tal informação? Mas pronto. Continuo a encarar a hipótese remota de o autor ser afinal um outsider, um simpatizante ou militante do PNR, por exemplo, sem nada a ver com a igreja católica local. Mas se assim é, estou pronto a penitenciar-me publicamente, desde que antes o clero católico de Tomar se demarque, claramente e por escrito, de semelhante atentado à democracia vigente, à natural convivência religiosa e à tolerância existente para com os agnósticos. Caso o não faça, quem cala consente, pelo que os tomarenses, católicos praticantes ou não, saberão tirar as suas conclusões.
Mesmo em democracia, há ideias e atitudes que não são de forma alguma aceitáveis. Com ou sem agressividade implícita.

anfrarebelo@gmail.com

Actualização
Caso até Maio este assunto, que considero particularmente grave, não tenha sido resolvido satisfatoriamente, tenciono requerer ao poder judicial a identificação do autor de tal prosa, para posterior apresentação de queixa, por considerar estarem constituídos os delitos de anti-semitismo e intolerância religiosa. Fica o aviso.

6 comentários:

  1. Aplaudo este post.
    Um amigo um dia disse-me: "O Rebelo, concorde-se ou não com ele, é o único nesta cidade que tem coragem de dizer o que pensa e assinar por baixo".

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  2. Anónimo19:43:00

    De facto na vida como na política não pode valer tudo...A ética é bem necessária mas anda bem agrilhoada em tempo eleitoral. E quando deixa de haver argumentos políticos começam logo os argumentos pessoais e as tentativas de morte de carácter. Força Dr.António rebelo.

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  3. Agradeço este texto. Espero que seja difundido nos órgãos de comunicação social. A gravidade do seu conteúdo e pensamento de quem escreveu, são muito perigosos! Não podemos tolerar tais actos sob risco de aceitarmos negligentemente! as coisas nunca acontecem por acaso. No mundo actual têm-se banalizado a violência com este intuito, abrir portas que se encontravam bem fechadas. A responsabilidade nestes temas é muito importante, mais uma vez muito obrigado pela intervenção.
    Cumprimentos
    Pedro Oliveira

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  4. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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    1. O comentário anterior foi eliminado por não estar devidamente identificado. Será publicado caso a autora ou autor se identifique previamente, de forma privada se assim o entender, escrevendo para anfrarebelo@gmail.com

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