quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Sobre o lastro negativo

Usei na crónica anterior o conceito de lastro negativo, nesta frase: ...a necessidade imperiosa de abordar, nessas futuras linhas programáticas, o problema do lastro negativo do município e as medidas propostas para o ultrapassar. Estou convicto que todos os leitores compreenderam perfeitamente o que pretendi dizer. Mesmo assim, parece-me prudente esmiuçar, uma vez que, se compreenderam sem explicação adicional, melhor compreenderão com os novos dados.
Comecemos portanto pelo básico. Lastro é, segundo os dicionários da língua portuguesa, a matéria pesada (ferro, pedra, areia, madeira, cimento...) que se coloca no porão de um navio, para o equilibrar, quando a carga normal não é suficiente para tanto. Um exemplo: No tempo do Brasil-colónia, os navios à vela traziam para Portugal, além do ouro, açúcar e madeiras exóticas. No regresso, ou torna-viagem, carregavam geralmente vinho, azeite, tecidos etc, sempre em muito menor quantidade, devido à agora designada "troca desigual", criando assim a necessidade de colocar lastro no porão, para completar o peso insuficiente da carga útil.
Na maior parte dos casos, esse lastro eram toneladas de grossas pedras, que depois vieram a ser usadas para calcetar nomeadamente as ruas do centro histórico de Paraty. A chamada calçada em "pé de moleque". (Ver foto)


 Imagem relacionada

Nos nossos dias, os navios de carga e os barcos de cruzeiro já não precisam de adicionar lastro, uma vez que o peso do combustível e da carga comercial (mercadorias ou passageiros) são suficientes para garantir as melhores condições de navegabilidade. Mas ficou do passado essa noção de lastro, um lastro positivo porque indispensável.
Inversamente, usei a expressão lastro negativo para tentar mostrar que o Município de Tomar, vulgo Câmara, arrasta consigo um peso negativo, que impede a cidade e o concelho de navegar nas melhores condições, num mundo cada vez mais competitivo. A prova disso é que a população do concelho vem diminuindo de forma acentuada desde há mais de dez anos, enquanto a do concelho de Ourém, por exemplo, tem aumentado. Há portanto algo que não deixa Tomar desenvolver-se. O tal lastro negativo.
No meu pobre entendimento, esse lastro negativo engloba quatro aspectos, estreitamente ligados entre si, os quais agem como repelentes para os potenciais investidores com alguma relevância: 1 - Excesso de despesa com pessoal (40% do orçamento); 2 - Existência de uma burocracia miudinha, arrogante e interesseira, que tende a complicar tudo; 3 - Legislação local desadequada e com contornos autoritários, com especial destaque para o PDM, que nunca foi nem é algo que convenha realmente à cidade e ao concelho; 4 - fiscalidade local exorbitante, quando comparada com os concelhos vizinhos, e que encarece bens essenciais, como a água, por exemplo.
Aproximam-se eleições autárquicas, o que vai levar os vários candidatos a apresentar cada qual o seu programa. Não é obrigatório que esses programas abordem os problemas que acabo de apresentar, bem como as respectivas hipóteses de solução. Creio contudo que, caso o não façam, optando pelo mais confortável silêncio, e venham depois a governar o município, dentro de quatro anos estaremos ainda pior. Como sucede com a actual gestão PS/CDU. 
Ou será que estamos agora melhor que há quatro anos, aqui em Tomar? Acha que sim? Então faz parte daquele grupo de honrados cidadãos instalados à manjedoura orçamental, o que os leva a considerar que, se melhorou para eles, também melhorou para os outros. Infelizmente para todos, os números oficiais mostram o contrário.
Em 2005, havia no concelho de Tomar 38.518 eleitores inscritos. Em 2013, após 8 anos de péssima gestão PSD, esse total tinha baixado para 37.310. O que mostra que em dois maus mandatos PSD, 1208 eleitores desapareceram do concelho, porque faleceram ou resolveram calçar os patins. Durante esses mesmos oito anos, o concelho de Ourém, aqui ao lado, registou um aumento de 5.520 eleitores inscritos.
Durante a excelente gestão socialista que temos agora, os 37.710 inscritos de 2013, baixaram para 36.266, em 2016. Desapareceram portanto 1044 eleitores em 3 anos. Ou seja, menos 348 eleitores por ano, o que multiplicado por oito anos dá um total de menos 2.884 eleitores. Com uma boa gestão socialista. Agora imagine se fosse má, como a do PSD. Quer saber o que aconteceu em Ourém, igualmente dirigida pelo PS, entre 2013 e 2016?  Perderam apenas 468 eleitores inscritos. Regrediram de 43.331, em 2013, para 42.863, em 2016.
Mesmo assim continua convencido que em Tomar as coisas melhoraram nos últimos quatro anos? Está no seu direito. Mas olhe que os dados reais mostram apenas uma coisa: Esta câmara pode ser boa para os seus funcionários e outros instalados à mesa do orçamento, mas infelizmente é má para a cidade e para o concelho.
Isto porque, perdendo anualmente cada vez mais eleitores, que são sobretudo pagadores de impostos e taxas de toda a ordem, lá chegará o dia em que a receita fiscal nem sequer vai chegar para pagar aos funcionários e aposentados. É o que nos espera no final deste caminho errado por onde vamos.
Limito-me a avisar, porque quem te avisa, teu amigo é.

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