quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Excelente exemplo de cidadania

"Sem duvida que este prémio é mais uma palhaçada eleitoralista da presidenta mas discordo que a festa tenha necessariamente de dar lucro. Não vejo como isso seria possível sem a descaracterizar com patrocínios de grande marcas e compromissos televisivos, o que seria muito pior na minha opinião. Esta festa sempre foi do povo para o povo, e apesar do prejuízo camarário, a cidade ganha (ou devia de ganhar) com os visitantes e cumpre o seu prestígio.
No entanto, acredito que há soluções bem melhores e muito mais económicas do que as actuais. O planeamento começa sempre tarde e fica a impressão que não envolvem as comunidades como deveriam de fazer. Ainda não se pensa a festa como um todo, ainda não há quem pense nas condições de quem assiste ao cortejo. Não há estratégias de promoção da festa. Apoio aos comerciantes/restaurantes é sempre insuficiente. Ocorrem sempre os típicos problemas com as excursões e afins. Enfim, uma série de problemas recorrentes em que não há capacidade para pensar de outra forma. Mas haver gente para encher a comissão de festas, isso nunca falta!"
Este comentário ao texto "Um disparate sem remédio", que aqui reproduzo com todo o gosto, constitui um excelente exemplo para ilustrar o exercício pleno e correcto do direito de cidadania. Tem muitas vertentes. Apoia, discorda, expõe dúvidas, avança queixas, mas tudo dando a cara, num tom  escorreito, sereno, educado e amistoso. Como sempre deveria ser, mas infelizmente não é. Obrigado por esta ajuda em prol do cada vez mais necessário e indispensável debate tomarense.
Não escrevi nem penso sequer que "a festa tenha necessariamente que dar lucro". Tive até o cuidado de especificar que merece respeito e não deve ser abastardada, seja qual for o pretexto. O que quis dizer é mais simples. Que  a nossa querida Festa Grande, se for bem organizada, por cidadãos inteiros que saibam o que andam a fazer, dará forçosamente lucro, a partir do momento em que a reformatem em função dos tempos que correm. Respeitando naturalmente a tradição, mas não tudo o que julgam erradamente ser tradicional. Vejamos.
Na origem era uma festa pagã, que celebrava as boas colheitas. Esse tempo passou. Agora as boas colheitas resumem-se aos impostos e taxas cobrados por quem nos devia governar e infelizmente só nos explora. Sem qualquer indício de má vontade. Apenas porque não sabem nem querem aprender a fazer melhor. Foi depois um cortejo de oferendas, com a bênção da igreja católica. Uma forma de dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede, pelo menos uma vez por ano. O bodo final aos pobres, a chamada "distribuição da peza", que ainda se mantém.
Depois, as vicissitudes de toda a ordem aniquilaram a festa, que acabou de morte morrida. Estávamos na década de 30 do século passado. Foi um meteco que teve a ideia de a restaurar -o Eng. Santos Simões, estrangeirado porque educado em Inglaterra. Conhecido entre os seus trabalhadores como o "Jones da Fábrica de Fiação", depois especialista em azulejos. Onde isso já vai! Convenceu o então presidente da câmara, o tomarense e capitão de infantaria Fernando de Oliveira, um dos tenentes do golpe do 28 de Maio de 1926. Convenceu-o de que maneira? Transformando a festa dos tabuleiros numa cerimónia de homenagem ao regime, num acto de beija-mão, com se disse na época. Foi aí que se iniciou a nomeação do presidente da câmara como presidente da comissão central, bem como o alçamento frente à Câmara dos tabuleiros em simultâneo, logo após a bênção. Quando o senhor vigário (na altura não existia o bispado de Santarém) ainda não abusava da circunstância para fazer pregação tipo peixe espada...
É essa tradição que perdura, nos seus dois aspectos. Para os tomarenses é algo de muito profundo, muito sentido, quase sagrado, inexplicável afinal. Até eu fico com as lágrimas nos olhos quando, da janela de canto do turismo, vejo surgir do portão da Cerca os primeiros pares. Citando uma vez mais Nini Ferreira: "Os tomarenses vêem a festa com outros olhos". Para os visitantes, contudo, trata-se apenas de um cortejo folclórico, lindo, muito colorido, mais ou menos bem organizado, mas apenas isso. Escapa-lhes completamente, segundo tenho conseguido apurar, qualquer transcendência. Por outras palavras, são apenas espectadores e comportam-se como tal. E sendo espectadores, consideram aquilo a que assistem um espectáculo, pelo qual estão dispostos a pagar. Como em qualquer outro lado.
Excelente ocasião portanto para cobrar entradas, fechando previamente todo o circuito do cortejo, mas isentando naturalmente os residentes e os nascidos em Tomar, mediante apresentação do respectivo cartão de cidadão. E óptima ocasião para melhorar substancialmente o acolhimento dos visitantes. É complicado? É sim senhor. Mas com arcaboiço cabeçal, paciência e método tudo se faz. É caro? É sim senhor. Mas só no primeiro ano, em que se tem de comprar todo o material (painéis de vedação, sistemas de controlo automático de entradas, bilheteria electrónica...) Nos anos seguintes é sempre a somar... e a música a tocar. Para comemorar os lucros da festa.
É isto, caros conterrâneos. Estou enganado? É possível. Mas porque se recusam então a debater publicamente o assunto? Porque não querem sequer experimentar? Têm medo de quê? Já se deram conta que vivem em permanente contradição? Porquê? Porque concordam que a situação cada vez está pior, mas depois não querem mudar nada. Afinal em que ficamos? Isto cada vez está pior? Ou, tudo devidamente ponderado, está bem assim e o problema é a mudança inevitável?

4 comentários:

  1. Sou pelos ingressos a pagar a preços simbólicos e muitos lugares de bancadas pagos para dar qualidade de espera aos visitantes, como se assiste na Festa da Flor da Madeira em que não se paga para ver o Cortejo turistico, mas quase todo o espaço é ocupado por mais de 50 mil lugares de bancada pagos, ou na Romaria de Nª Srª Agonia, gratuita mas com mais de 25 mil lugares de bancada e cadeiras pagos. Depois a exploração de parques para ligeiros e viaturas de turismo que são o meio de transporte que mais turistas(visitantes excursionistas) trazem a Tomar. Nos moldes atuais nem as juntas de freguesia tem cabimento (e as rurais podem continuar a investir uma média por baixo de 5 mil euros para estar na festa) e a festa necessita de muito dinheiro para ser feita, e tendo sempre o voluntariado como base. A festa jamais pode acabar e a Secretaria de Estado do turismo, através das Regiões de Turismo, dado Portugal ter cada vez mais visitantes, logo mais entradas de divisas pelo turismo, tem que OBRIGATORIAMENTE apoiar este cartaz de excelência. Determinados modelos, que o Prof. rebelo foca e bem que nos fazem crer, os mais puritanos tomarenses e acerberbados "donos da festa do povo" como são a tradição, tem que mudar e a festa ser a verdadeira Festa do Espirito Santo, onde os eleitos desfilam atrás do Cortejo e em que não se assista a uma magote de gente na frente do mesmo que não transporta nada e que pelas razões apontadas e bem, foram uma forma que um tal Jonas arranjou e que foi sucesso, mas que depois se veio a provar que a "vaidade" de muita pavão, não dão a melhor imagem a um cartaz turístico e não devem incorporar o cortejo ou procissão. A festa tem potencial e deve ser classificada como Património Nacional e Imaterial da Unesco e temos que pensar em quem nos visita e pode pagar e quer pagar tendo condições e não na festa nossa para vermos das varandas. Há que reunir, discutir e aceitar mudanças e não se continuar agarrados a a preconceitos de uma cidade nobre e aristocrática, em redor da sua festa que a Festa é de todo o concelho. Mas será que vai ser possivel com determinadas mentes que como refere o ditado popular nunca viram santos logo não sabem pintar igrejas o mesmo é dizer de voluntários que são nomeados mas que não correm outras festas e vejam os modelos implantados, ou autarquias como aqui de bem perto a de Óbidos que através dos seus eventos cria riqueza e faz cada vez mais e melhor! A FESTA DOS TABULEIROS é uma marca e como todas as marcas necessita de um refresh

    ResponderEliminar
  2. Tanto o Dr. António Rebelo como o António Freitas, têm razão e o valor de publicamente falar sobre o assunto da Festa dos Tabuleiros e pretenderem um debate construtivo que conduza a que a Festa melhor e seja preservada, mas melhor aproveitada por Tomar.
    Nisto como em muitas outras coisas é chover no molhado, em Tomar teima-se em fazer mal e não aprender com os outros.
    Perante o vosso esforço, só posso incentivar a vossa cruzada e dizer que têm muita razão.

    ResponderEliminar
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  4. Quer o António Alexandre dizer que é como dar pérolas a porcos. Mas o pior é quando não se conseguir e a fazer fé no Luis Ferreira, que sabe dos custos, no meio milhão que a festa custa.

    ResponderEliminar