segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Em Bruxelas é um bocado pior

Muitos tomarenses sentiram-se incomodados com aquela trapalhada da senhora presidente e do então seu companheiro e chefe de gabinete, de resto com toda a razão. Agora imagine-se como reagiriam se vivessem em Bruxelas...

"Na Bélgica, ex-ministra ataca abaixo da cintura"

"Nove meses após a demissão forçada do governo, Jacqueline Galant publica "Vai à merda Galant!" para ajustar contas." 

"Viu-os, parecendo "adolescentes apalermados que, durante as bebedeiras na universidade, gostam de mostrar a pica, para ver qual é a maior". Conheceu-os, mais discretos que Berlusconi ou Dominique Strauss Khan, mas "tão numerosos. Que não hesitam tirar as calças em pleno gabinete ministerial, para um momento íntimo com uma assistente, uma admiradora ou uma conquista de passagem. Que mantêm cinco ou seis amantes em simultâneo". Donde conclui que, "felizmente os cidadãos não sabem de tudo o que acontece nos recantos mais discretos do poder. Se soubessem. ficariam pasmados e agoniados".


Jacqueline Galant lors de la sortie de son livre « Galant, je vous dis merde ! ».


Um panfleto escrito à pressa

Ignora-se se os cidadãos estão mesmo pasmados e agoniados. Mas com o livro de Jacqueline Galant, ex-ministra da mobilidade no governo do liberal Charles Michel, estão pelo menos informados dos hábitos sexuais de alguns dos seus ministros. Este insólito testemunho escrito tem um título igualmente surpreendente: Galant, je vous dis merde! (Ed. Luc Pire, 128 páginas, 16€) Ou seja, em português, Vai à merda Galant! Segundo a autora, uma injúria que ouviu da boca de uma personalidade local descontente, aquando do funeral do pai, ao qual ela sucedeu como presidente da câmara de Jurbise, na província de Henault. Sem contudo a censurar, o presidente do seu partido, o Movimento reformador, aconselhou-a a não publicar semelhante panfleto, visivelmente  escrito à pressa.
Com efeito, é lógico pensar que a referida publicação significa o fim da carreira de alto nível desta quarentona. Mas, cá está: A outrora adolescente fisicamente pouco atraente, gozada pelas companheiras de turma e perturbada pelo feitio mulherengo do pai, queria vingar-se. E a política surgiu-lhe como o caminho mais rápido para fazer um pirete a todos os que, diz ela, a tinham transformado na "louca da aldeia", justamente quando sofria bastante com a sua aparência. De tal modo que só se sentiu "totalmente mulher e quase desejável", após uma operação de correcção dentária, aos 35 anos...

Manobras do Movimento reformador

Promovida à gestão de um ministério complexo, rapidamente se transformou em alvo de críticas, acabando por ser vítima de um caso de auditoria duvidosa, em Abril de 2016. Segundo afirma, caiu devido a manobras de um homem"frio e arrogante", o ministro dos negócios estrangeiros Didier Reynders.
Há alguns anos, a senhora Galant integrou um grupo cuja missão  era afastar Reynders da liderança do Movimento reformador. Logo após terem atingido esse objectivo, o seu amigo Charles Michel foi, de forma surpreendente, nomeado primeiro-ministro.
Actualmente, Charles Michel parece ter-se afastado da sua ex-aliada, que se considera uma vítima expiatória. Segundo alega, não podendo atacar directamente o seu rival e primeiro-ministro, Reynders tê-la-à destabilizado, até a obrigar a uma demissão vergonhosa. Donde este ensaio, meio popular, meio patético, com uma conclusão forte e definitiva: Actualmente o maior erro é "pensar que a política pode realmente, rapidamente e duravelmente mudar alguma coisa.".
O cidadão que "sabe como é" não pode deixar de pensar se a senhora ex-ministra Galant teria ido tão longe, caso não tivesse sido forçada a demitir-se."

Jean-Pierre Stroobants, Le Monde online, 10/02/2017
Tradução e adaptação de António Rebelo

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