terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A cada vez mais desagradável realidade

anfrarebelo@gmail.com

Mostra a experiência recente que o escriba destas mal alinhavadas linhas se torna agreste, aos olhos de certos leitores, quando ousa escrever algumas verdades mais incomodativas. Ou menos convenientes. Depende dos pontos de vista. De todas elas, a mais detestada parece ser a referência ao excesso de funcionários municipais sentados. Pois alegrem-se os meus críticos mais severos. Desta vez, limito-me a citar uma fonte internacional bastante credível. Falo da OCDE, que no seu relatório sobre Portugal, difundido ontem, indica entre outras bizarrias as duas seguintes:

"Há polícias e professores a mais?" 

"A fatura salarial na Função Pública está a aumentar e mais do que esperado. A OCDE aponta o dedo às reversões decididas por este Governo, como no regresso às 35 horas de trabalho semanal e no fim da redução do número de trabalhadores.
A OCDE vai mais longe e diz que, apesar de haver insuficiências em algumas áreas, há outras, como as forças de segurança e a educação, onde há um número excessivo de trabalhadores. A título de exemplo a organização relembra que Portugal tem mais um terço dos polícias que a média da União Europeia.
No caso da Educação, a queda no número de alunos não tem sido refletida no número de professores que o Estado continua a empregar." Para continuar a
 leitura,  clique aqui.
Mesmo assim, ainda não há muito tempo os tomarenses  queixaram-se de falta de policiamento, nomeadamente na Praça da República. Há igualmente professores queixando-se de turmas com demasiados alunos... e mais 3 mil docentes precários vão passar a efectivos.
Continuando nas margens nabantinas, felizmente para os ilustres membros do "Império tomarense dos sentados", por enquanto a OCDE ainda não se debruçou sobre os recursos humanos na função pública municipal. Tudo indica porém que lá virá o tempo, porquanto a dívida pública do país já ultrapassa os 135% do PIB, a terceira mais elevada da União Europeia (logo abaixo da Grécia e da Itália), o que corresponde a algo como 241 mil milhões de euros. Mais ao alcance dos leigos em economia: O pagamento anual dos juros e outros encargos da dívida pública equivale à dotação orçamental do Ministério da Saúde. Nestas condições, acham possível manter a situação actual durante muito tempo? Se afirmativo, com que recursos? Quem vai continuar a financiar um país assim a taxas aceitáveis?
Também a nível local, peço licença para citar  duas notícias do tipo ocorrências diversas, por acaso ambas de acidentes rodoviários. Eis a primeira:
"O alerta chegou às forças de socorro pelas 10h25, sendo que para o local (Curva dos Marcos) foram mobilizados catorze operacionais e dez veículos, de entre os quais ambulâncias das corporações do Entroncamento e de Ferreira do Zêzere, a ambulância Suporte Imediato de Vida e ainda um veículo da empresa Estradas de Portugal, para além da Polícia de Segurança Pública." 
A notícia completa pode ser lida clicando aqui.


Foto Hertz online, a quem se agradece
Uma vez que "foram mobilizados 14 operacionais e dez veículos", tratou-se de uma ocorrência bastante grave e fora do comum? No meu tosco entendimento, nem por isso. Apenas o choque de dois automóveis, do qual resultaram quatro feridos com gravidade diversa, logo transportados para o Hospital de Abrantes, apesar de o acidente ter ocorrido em Tomar. Política hospitalar à portuguesa: passear feridos e outros pacientes de ambulância.
Tratou-se portanto de manifesto esbanjamento de meios humanos e materiais, à primeira vista originado por deficiente organização e falta de coordenação. Caso raro? Pelo contrário:
"Um jovem morreu na madrugada deste domingo, 5 de Fevereiro, em Tomar, quando a viatura ligeira em que viajava se despistou, informou o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém.
Estiveram no local os Bombeiros Municipais de Tomar com três viaturas, além de uma ambulância de suporte imediato de vida (SIV) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e uma equipa do Centro Hospitalar Médio Tejo, com viatura médica de emergência e reanimação (VMER)."
Ler a notícia completa aqui.
Ou seja, no primeiro caso, 14 operacionais e 10 viaturas para 4 feridos. No segundo caso 5 viaturas e respectivos operacionais especializados, sem contar com a PSP ou a GNR, para tentar socorrer um jovem já cadáver quando os bombeiros chegaram, segundo noticiou a Rádio hertz.
Pode ser que esteja tudo muito certo. No meu pobre entendimento de pagador de impostos, não está. Nem coisa que se pareça. Em que me baseio? No que se passa por essa Europa fora, em países com bastante mais recursos materiais do que o nosso. Onde apesar disso nunca saem 14 operacionais e 10 viaturas para um simples acidente entre dois carros, nem 5 carros de bombeiros e/ou ambulâncias por causa de um despiste que causou um morto. Com a particularidade de a notícia do óbito ter sido difundida pelo CDOS de Santarém, situado a 70 quilómetros do local do acidente, num país com pouco mais de 700 quilómetros de comprimento, por menos de 300 de largura.
Multiplicando aberrações e esbanjamentos deste mesmo tipo por centenas de milhares todos os anos, teremos uma pálida ideia do que custam tais práticas condenáveis. Que todos os contribuintes são forçados a pagar, por não terem outra solução.
Que país é este afinal? Que cidadãos temos, que não se dão conta dos onerosos erros que vão cometendo no dia a dia? Já estamos na República do deixa andar?

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