domingo, 29 de janeiro de 2017

O escrito e o lido, ou dois em um

Ao que parece, no meu escrito A confirmação de Boavida, alguns leitores leram o que lá não está. O que eu não escrevi. Não é grave e acontece com frequência. Já lá vão mais de quatro décadas quando me sucedeu pela primeira vez. 
Num seminário de doutoramento em Economia Política/Economia do Turismo, na Universidade de Paris VIII - Vincennes, um dos 16 doutorandos participantes, discordou de vários aspectos do então rascunho da minha tese. Surpreso, argui que nada do que ele criticara lá estava escrito, pois não fora isso que eu pretendera expressar. Deu-me razão, mas concluiu dizendo que o fundamental era aquilo que o leitor interpreta, não aquilo que o autor escreve.
A outro nível, numa outra matéria, volvidos mais de 40 anos, eis-nos num caso semelhante. Ao que percebi, no escrito em causa terei cometido dois erros políticos  -assim uma espécie de dois em um. 1 - Apoiei a candidatura de Luís Boavida; 2 - Disse que ele vai ganhar. Julgo não ser isso que está no texto citado. Mas posso estar equivocado. Vamos aos factos.

Francisco Sá Carneiro na fila para votar, pela primeira vez em democracia. Qual a relação com o texto?
Parto do princípio que, caso Sá Carneiro fosse vivo e habitasse em Tomar, certamente votaria Boavida.

Antes de mais, não disse que Boavida de certeza vai ganhar. Limitei-me a vaticinar, tendo em conta os elementos até agora disponíveis, que o candidato laranja está praticamente condenado a ser o vencedor, salvo qualquer imprevisto grave. Que elementos são esses? A formação académica, a experiência profissional, a agenda pessoal, a implantação nas estruturas associativas concelhias, o facto de ser a sua estreia política, o partido pelo qual concorre ser a usual alternativa local e, sobretudo, porque é funcionário superior da autarquia a cuja presidência se candidata.
Se as circunstâncias fossem outras, talvez a candidata socialista pudesse ter algumas hipóteses. Infelizmente para ela, para além das sucessivas e infelizes trapalhadas em que se envolveu ou a envolveram, seguiu os ditames do seu partido: apoio aos funcionários da autarquia, aos presidentes de junta, aos pensionistas e às colectividades, porque são as principais fontes concelhias de votos. Ora Boavida, funcionário como ela, mas interno, por assim dizer, tem mais experiência, está muito melhor introduzido e posicionado para conseguir o voto desses eleitores, que se habituaram a contactá-lo na autarquia ao longo dos anos, sabendo muito bem como as coisas funcionam. Na política local, quem se engana no voto, tarde ou nunca consegue reparar o erro. Por conseguinte, no estado actual das coisas, a vitória de Boavida parece-me de longe a mais provável em Outubro próximo.
Quanto ao meu alegado apoio à sua candidatura, trata-se de um evidente abuso de linguagem. Não é por vaticinar a sua vitória, baseado em factos para mim evidentes, que sou forçosamente seu apoiante. Limito-me a ser sincero, transmitindo como vejo a situação. De resto, nesta altura do campeonato, antes de conhecidos os programas e as listas completas, não sou apoiante de ninguém. Como tão pouco sou apoiante do frio, o que não obsta a que preveja que vai durar pelo menos até ao final de Fevereiro,  sem correr o risco de me enganar. 
Estamos entendidos agora?

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