segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Excesso de zelo

Não se preocupem comigo. Continuo bem, para desespero daquelas ratazanas que bem gostariam de me ver à sombra dos ciprestes do cemitério velho. Dizem gostar de ler o que escrevo, mas é tudo mentira. Trata-se apenas de coscuvilhice. A prova é que dizem ler, mas recusam mostrar-se como seguidores, o que poria em evidência a hipocrisia de muitos. Adiante, que o assunto não merece mais. Apenas uma palavra de ordem: Ratazanas para os esgotos! Já!
Não publiquei nada esta manhã porque andei a dar a volta à cidade, única maneira de sacar algumas fotos que vão ilustrar futuras publicações. Testemulhei até um evidente, porém benigno e bem intencionado excesso de zelo, que passo a relatar, por me parecer significativo da época que atravessamos.
Quanto tirava fotografias junto ao Regimento de Infantaria 15:


fui abordado por uma simpática e educada militar -fardada, mas desarmada- que me perguntou que fotos tirara eu. Surpreendido com tão insólita situação, dei comigo a pensar que, caso eu fosse um perigoso terrorista, pobre da militar desarmada. Após o que ainda tive a tentação de "espingardar" com ela, perguntando-lhe se tinha alguma coisa com isso. Isto porque, como é do domínio público, penso eu, os militares, (excepto os da GNR ou da Polícia Marítima), não têm autoridade para interrogar civis, salvo quando em estado de emergência ou de guerra, previamente aprovados na Assembleia da República e depois promulgados pelo senhor presidente da República. Além disso, no estado actual das coisas, ignoro que haja qualquer legislação proibindo que se fotografem quartéis ou outras construções militares.
Pensando mais um bocadinho, resolvi contudo colaborar por me parecer boa a intenção demonstrada. Assim, expliquei o que tinha feito e mostrei as fotos obtidas. Tive então direito a um sorriso e a esta frase inesperada e totalmente deslocada: -Está desculpado!
Uma vez que não me sentia nem sinto culpado do que quer que seja, vim pelo caminho pensando que talvez fosse bom as Forças Armadas, às quais tanto devemos, ensinarem os seus membros a respeitar os direitos dos cidadãos, nomeadamente o de não serem importunados por inopinados excessos de zelo, que configuram abusos de autoridade.
Na circunstância, se a simpática militar achou que eu poderia ser um potencial espião serôdio, ou um temível terrorista aposentado, deveria ter ligado à PSP ou à GNR a denunciar-me, pois só os seus agentes têm competência para questionar civis no dia a dia.
Aqui fica o reparo, para o caso de alguém, com autoridade e poder de decisão, ler estas linhas. Porque os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, que figuram na Constituição, não são negociáveis.

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