domingo, 27 de novembro de 2016

Será da água do Nabão?

Será da água do Nabão? Ou, como já dizia o meu avô Joaquim Rebelo, "Santos da casa não fazem milagres, e os outros também não"? Seja como for, a verdade é que entre Abrantes e Tomar a distância é pequena, mas quanto a oposição a diferença é grande. Salvo no que se refere à crise, que por lá também não está para brincadeiras.
A interrogação sobre a água do Nabão impõe-se porque em Abrantes, nas margens do Tejo, a oposição PSD protesta, apesar da forte implantação do PS, que lidera a autarquia há mais de 20 anos, enquanto que em Tomar, pelo contrário, é o que se vê. Dado que a situação económica é praticamente a mesma, os costumes são os mesmos, o partido é o mesmo e o clima também é o mesmo, só a água do Nabão, sobretudo nesta fase de grande poluição vinda de Ourém, pode explicar uma tal diferença comportamental.

 Foto A. Costa

Lá, em Abrantes,  a oposição critica frontalmente e sem luvas, conforme se pode confirmar aqui. Enquanto isso, em Tomar, a oposição ou fala com punhos de renda, estilo Luís XV, ou mantém um prudente silêncio, ou fala para se ouvir, esperando que a oiçam para fins eleitorais. A tal "oposição construtiva", que nunca ninguém conseguiu explicar-me o que possa ser realmente. Ser conformista? Fazer o jeito a quem manifestamente governa mal?
Tudo me parece apontar para as pessoas. Porque são sempre as pessoas que fazem a diferença. Mas eu não queria ir por aí, porque então sou levado a citar uma frase célebre do presidente Abraham Lincoln, que nasceu em 1809 e foi assassinado em 1865. Apesar de demasiado agreste, bem ao meu estilo portanto, essa frase parece-me muito adequada ao actual momento político nabantino. (Sem ofensa, naturalmente. Estamos no domínio exclusivamente político.) Com as minhas antecipadas desculpas pela citação, ela aí vai: "Pecar pelo silêncio, quando se devia protestar, transforma homens em cobardes."
Aleija um bocado, não aleija?! Mesmo considerando que só enfia a carapuça quem quer. De qualquer forma, Lincoln era realmente bastante agreste. Só que, naquele tempo e naquele continente, sendo agreste mas certeiro e arteiro, chegava-se a presidente. E foi com políticos assim que os Estados Unidos são hoje aquilo que são. Mesmo após a escolha de Trump. Em contrapartida, Tomar...
Pelo que, com licença de quem me lê, passo à ironia fina: -Vivam os punhos de renda! Vivó conformismo! Vivá oposição construtiva! Porque assim os eleitores poderão lastimar-se com verdade que "A câmara não presta, mas a oposição também não é melhor". É a triste realidade. E mal por mal...
Resta-me adaptar o final da Balada da neve, de Augusto Gil:

                                               Que quem é pecador 
                                               Sofra tormentos enfim! 
                                               Mas aos tomarenses Senhor! 
                                               Porque lhes dais tanta dor?  
                                               Porque padecem assim?!

                                               E uma infinita tristeza
                                               Uma grande confusão
                                               Entra em mim e fica presa
                                               Vou de desencanto em estranheza
                                               Caminhando devagar pró caixão 

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