quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Pitonisas, governantes, latinos e anglo-saxónicos

É sabido que nunca abordei neste blogue questões nacionais. Sempre me limitei ao círculo local. Porque entendo que a cada qual  sua missão. Âmbito local para a informação tomarense, âmbito nacional para a informação que se faz em Lisboa ou no Porto. Desta vez, porém, resolvi saltar deliberadamente essa vedação. Porque li no Templário, (que a Isabel faz o favor de me mandar), uma excelente peça, assinada por Adriano Miranda Lima. Porque o conteúdo da dita peça é importante e está muito bem escrito, coisa rara pelos lados de  Tomar. Porque quero mostrar a mim próprio que ainda sou capaz de escrever com alguma utilidade sobre Economia Política, a formação universitária em que cheguei ao topo. Finalmente, porque acalento ainda a secreta esperança de que, finalmente, alguém entenda em que consiste o nosso problema colectivo.
Na referida peça, cuja leitura aconselho vivamente, na página 22 do Templário, Adriano Lima aborda a actuação dos comentadores de economia na televisão que temos, e as teorias que avançam, porque não estão constrangidos pela governação. Passa depois aos binómios orçamento equilibrado  = ditadura, desequilíbrio das contas públicas = democracia, assim condensando a complexidade e os erros dos governantes que temos tido. Termina com uma observação que me parece muito pertinente, a exigir aprofundamento:
"O leitor já terá intuído ou deduzido que o problema das nossas contas públicas poderá ter, na verdade, alguma relação com a nossa idiossincrasia. Isto é, com a  falta de apuro da nossa consciência colectiva..."
Nessa linha, é meu entendimento que o par democracia = desequilíbrio orçamental não é uma fatalidade. Desde que não se caia no exagero bem conhecido de Jorge Sampaio, ao proclamar, enquanto Presidente da República, que "Há mais vida para além do orçamento." Basta atentar no que ocorre na Europa ocidental e nos países de raiz anglo-saxónica.
Na Europa ocidental, temos dois grupos de nações, que podemos designar geograficamente por países do norte e países do sul. Aqueles, ultrapassaram facilmente a crise, têm orçamentos equilibrados, dívida pública modesta e controlada, e não enfrentam problemas de emprego ou bancários, com a notável excepção alemã, mesmo assim limitada a um só banco. Acessoriamente são todos países anglo-saxónicos, de maioria protestante, cuja população nunca acreditou nem acredita em milagres, em virtude disso mesmo.
Inversamente, os países do sul, de maioria católica, ou ortodoxa no caso grego, estão como se sabe. Alta taxa de desemprego, dívida pública exorbitante, orçamentos cronicamente deficitários, problemas bancários e evidentes dificuldades para ultrapassar a crise. Falo do naipe Espanha, França, Grécia, Itália e Portugal. Parece portanto haver uma relação causal entre mentalidade religiosa (crença em milagres, nomeadamente, mas não só) e comportamento económico-político.
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Para não irmos mais longe, aqui em Portugal, quanto mais bancos o governo decide salvar, com o dinheiro dos contribuintes, mais bancos aparecem para salvar. Ao contrário, nos Estados Unidos, por exemplo, quando o banco Lehman Brothers, um dos grandes do país, anunciou que tinha dificuldades e era demasiado grande para falir, o governo federal nem sequer hesitou. Deixou-o ir mesmo  para a falência. Da mesma forma, com o grande banco alemão Deutsche Bank a enfrentar imensas dificuldades, a chanceler Merkel já anunciou que não contem com o dinheiro dos contribuintes alemães para resolver o problema.
Americanos, alemães, nórdicos e anglo-saxónicos em geral, todos já perceberam há muito que salvar bancos, subsidiar empresas, empregos ou taxas de juro, incrementar o peso do estado, significa inevitavelmente ter de aumentar impostos. E aumentar impostos mata o imposto, O estado acaba recebendo percentualmente menos. Os empresários reduzem ou anulam os investimentos, por falta de condições, e só não foge ao fisco quem não pode.. Exactamente o que está a ocorrer nos países do sul da Europa. Exactamente o que acontece em Tomar.
Burocracia tentacular e dominadora, impostos locais comparativamente demasiado elevados, retiraram à cidade e ao concelho condições para competir com a região circundante, pelo que a decadência é cada vez mais evidente. Empresas encerradas, prédios devolutos, emigração crescente, eis o nosso triste quotidiano.
E a situação vai agravar-se, enquanto a autarquia e o país não entenderem finalmente aquilo que é óbvio há muito, lá mais para o norte da Europa:  Só se consegue crescimento económico sustentado, mais empregos e aumento da população, reduzindo o Estado e diminuindo as despesas públicas, em vez de aumentar os impostos. O oposto do que vão fazendo a geringonça e os seus seguidores locais, pensando já nas próximas eleições. 
Mas quem é que consegue  meter isto na cabeça do pessoal católico, ainda por cima de esquerda? Acreditar em milagres tem os seus custos. E a nossa educação religiosa foi essa.

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