segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Obras na ponte das ferrarias

Úteis mas não prioritárias

A câmara está a fazer obras, por administração directa, no que resta da Ponte das Ferrarias. Essas ruínas são de uma antiga ponte romana que fazia parte do itinerário Olisipo (Lisboa) - Scalabis (Santarém) - Sellium (Tomar) - Conimbriga - Aeminium (Coimbra) -... ... ... Bracara Augusta (Braga), descrito por Antonino Pio, um viajante romano que por aqui andou já lá  vão  muitos séculos. Para se ter uma ideia da importância dessa ponte, que até ao início do século XVI foi a única travessia do rio existente em Tomar, cujo principal núcleo urbano era então no interior do castelo templário, convém saber que, até ao primeiro quartel do século XX, existiu uma estátua na sua cabeceira nascente, a qual chegou aos nossos dias, encontrando-se agora guardada no piso inferior do Claustro da Lavagem, no Convento de Cristo. (Foto 1)

Foto 1

Como sempre acontece, essa estátua corroída pelos séculos, provocou acesa polémica entre os raros eruditos locais nestas artes. De tal jeito que actualmente já nem se sabe muito bem se representa um imperador romano, S. Cristóvão, D. Sebastião ou S. Tiago, o de Compostela. 
Mais tarde, durante o reinado de D. Manuel, que findou em 1521, aproveitaram a estrutura da ponte para fazer um açude, tendo para isso instalado uma pequena adufa (a que agora chamamos comporta) do lado poente. Aí situaram igualmente uma fábrica de armas medievais (espadas, punhais, lanças, machados...), que na época designavam por ferraria, uma vez que fazia armas e outros utensílios de ferro. Daí o nome actual de Açude das Ferrarias.

Foto 2

Fruto do assoreamento do Nabão, da proximidade do acampamento do Flecheiro e da geral falta de civismo, desde há muito que, durante a maior parte do ano, a Ponte das Ferrarias, já com a primitiva adufa entupida, e com a água passando apenas por uma outra abertura, feita mais tarde, em data indeterminada, estava transformada num amontoado de plásticos de todo o tipo. O que naturalmente provocou os protestos de ecologistas locais, nomeadamente do grupo Acqua.
No segredo dos seus gabinetes, guarnecidos de fechaduras de código, decerto para evitar uma eventual invasão de cidadãos, querendo agradecer os bons serviços prestados, mas não sabendo como, a autarquia foi elaborando planos, tendo agora iniciado as obras Trata-se de vedar  a abertura mais recente, de instalar uma comporta metálica onde em tempos funcionou a de madeira, de reparar sumariamente a estrutura existente e de cobrir depois tudo com toneladas de pedra grossa, de forma a conseguir uma subida do  nível do rio  e o respectivo espelho de água. (Ver foto 2)
No meu humilde entendimento, são obras úteis, uma vez que acabam com alguns cagatórios do tipo do documentado na foto 3, e propiciaram a limpeza algo apressada das margens. Digo algo apressada pois o entulho removido foi deixado logo mais acima, nas margens, pelo que  não tardará a voltar ao leito do rio, com as próximas chuvas de inverno e uma ou outra inundação.

Foto 3

Além do já descrito, creio haver dois ou três problemas por resolver. O primeiro prende-se justamente com as inundações. Quando acontecerem, o açude insuflável do Flecheiro abate, restabelecendo o normal leito do rio. E ali, como vai ser? Esperam resolver o problema com uma minúscula comporta de metro e meio de largura? As pedras vão fugir à frente da cheia?
Outro óbice resultou da precipitada dragagem do leito do Nabão, junto ao açude. Tão apressada que facilitou aquilo que convinha evitar a todo o custo: a passagem das águas por baixo dos alicerces da antiga ponte, do lado nascente, que vão minar tudo a médio prazo, provocando o inevitável aluimento da estrutura, caso não seja entretanto encontrada uma solução. Foi o que aconteceu em tempos com a sapata em cimento do açude da desaparecida roda do Hotel dos Templários. Saindo do seu curso usual, a água minou primeiro a muralha do Mouchão, e depois grande parte dos alicerces da estalagem de Santa Iria.
Enfim, sou de opinião que a referida obra, apesar de útil conforme já referi, não era de modo algum prioritária. Sobretudo numa zona urbana em que a estrada é estreita e não tem passeios, colocando assim em risco qualquer cidadão que resolva por ali transitar a pé. (Ver fotos 4, 5, 6 ) Os moradores de S. Lourenço, da Borda da Estrada, de Carvalhos de Figueiredo, ou mesmo os do centro histórico, todos eleitores na antiga freguesia de S. João Baptista, também têm o direito de fazer caminhadas por ali,  sem que as suas vidas corram perigo. Tal como acontece com os da estrada de Leiria e os da rua de Coimbra, ambas já dotadas de passeios. Ou não?

Foto 4

Foto 5

Foto 6
anfrarebelo@gmail.com

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