sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Maneiras de ver

Duas frases marcaram o meu dia de ontem, aqui a sete horas de avião dessa terra onde nasci e me criei. "Tomar perde Parque de campismo", publicou em manchete o Cidade de Tomar, mais de um mês após o conhecimento público do facto. "A CDU é a força política capaz de gerir bem o concelho no meio de alguma bagunça" declarou por seu lado, segundo a Rádio Hertz, um representante daquela força política na Assembleia Municipal, que significativamente é professor.
Cidade de Tomar tem razão. Tomar perdeu o Parque de campismo. Contudo, o título escolhido deixa subentender algum fatalismo. Do tipo "infelizmente perdi ou roubaram-me a carteira". Ou, pior ainda, "com este óbito perdi para sempre um ente querido". Sucede que não se tratou nem trata de uma coisa nem outra. É tão só uma situação transitória, mais ou menos prolongada, exclusivamente provocada pela evidente incompetência dos sucessivos autarcas que nela (não) intervieram.
Incompetência de António Paiva, que teve mais olho que barriga, não conseguindo levar até ao fim o que antes mandara projectar e aprovar na autarquia. Incompetência de Corvelo de Sousa, que apesar de advogado, não cuidou dos aspectos legais, ao mandar reabrir o parque de campismo. Incompetência de Carlos Carrão, que se limitou a herdar a presidência e que só mais tarde se julgou capaz de vencer as eleições Incompetência enfim de Anabela Freitas e da sua rapaziada, que nunca se preocuparam em saber o que estava para trás, hábito muito comum na nossa juventude, para quem o Mundo só começou quando finalmente entenderam quem eram e onde estavam.
Tal como aconteceu antes, com o encerramento compulsivo do Mercado municipal, após várias advertências do organismo de fiscalização, também neste triste caso do parque campismo a culpa é toda de autarcas que, obnubilados pelos chorudos fins de mês em perspectiva, não hesitaram em candidatar-se a lugares para os quais manifestamente não tinham nem têm  competência suficiente ou sequer aceitável. Com ou sem jornais amigos a tentar disfarçar o óbvio desastre, procurando dar-lhe um ar de fatalidade inevitável.
Estou a ver mal? Creio que não. Por um lado, porque me limito aos factos. Com imparcialidade, pois nada me move contra os senhores eleitos, que sempre respeitei e respeito como cidadãos, com direitos e obrigações iguais aos meus. Por outro lado, porque não ambiciono vir a intrometer-me como candidato no pântano político nabantino. Enfim, porque a própria CDU, que como parceira de coligação pós-eleitoral vai permitindo a sobrevivência do fraco executivo tomarense, é muito clara. Declara-se "força política capaz de gerir bem o concelho no meio de alguma bagunça". Que alguém usualmente tão circunspecto como o citado deputado municipal comunista, enquanto representante de uma força política com apenas um eleito no executivo, que para mais é independente, venha declarar semelhante coisa, mostra bem ao que chegou a política local.. De um lado, excesso de presunção. Afigurações, como diz o povo. Do lado oposto, a dura realidade. Nas últimas autárquicas, um jovem desconhecido candidatou-se pelo MPT e ficou a menos de 400 votos da CDU, que teve pouco mais de 1.800 sufrágios. Isto numa cidade cuja presidente de câmara venceu com menos de seis mil votos, quando antecessores seus ultrapassaram o dobro. Será preciso fazer um desenho, para perceberem melhor?
Estarei a ser demasiado agreste, como costumam alegar alguns daqueles que não gostam do que escrevo? Se afirmativo, porque será então que mais de metade dos eleitores inscritos não foram votar em 2013 ?

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