quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Na "selva" de Calais - França - 2

"Vamos instituir um "corredor de saída" que uma vez franqueado tornará o regresso impossível à "selva"

A governadora civil da região de Pas de Calais espera evacuar 2 mil pessoas logo no início da operação de desmantelamento

"A governadora civil do Pas de Calais está pronta. Aguarda apenas a ordem do ministro, que pensa não tardar. Na passada segunda-feira, 12 de Setembro, esteve novamente todo o dia em Calais. Na sua secretária improvisada, as plantas gigantes da "selva" misturam-se com fotografias aéreas deste bairro da lata, que ocupa grande parte do seu tempo.

Um aspecto da "selva" de Calais. No primeiro plano as tendas do acampamento "selvagem". Ao fundo os alojamentos em contentor do campo de acolhimento, inicialmente facultados pelo governo como solução provisória para o afluxo de migrantes que pretendem ir para Inglaterra. (Foto Charales Platiau/Reuters/Le Monde)

Fabienne Buccio diz ter aprendido com o desmantelamento da zona sul da "selva", em Fevereiro passado. Sabe que todos os que são voluntários para partir devem ser embarcados nos autocarros o mais depressa possível, antes que mudem de opinião. "Pretendo obter quanto mais autocarros melhor, para que todos os migrantes que o desejem possam partir imediatamente. Vamos instituir um"corredor de saída", que uma vez franqueado tornará o regresso impossível à "selva". É a partir desse mesmo "corredor de passagem" que tencionamos orientar cada pessoa, cada família, com a maior minúcia possível, para o local de acolhimento que melhor convenha à sua situação."
Alguns Centros de Acolhimento e de Orientação (CAO) dispõem de alojamentos para famílias. Outros ainda, têm dormitórios para homens sós. "Em nenhum caso poremos pessoas a dormir em pavilhões desportivos", insiste a governadora civil. Utilizada na região de Paris, esta fórmula não tem sido até agora muito convincente e os migrantes têm regressado aos acampamentos.
A governadora civil solicita, além de um acolhimento digno, autocarros em número suficiente para evacuar 2 mil pessoas logo nas primeiras horas da operação, mesmo se esta, acrescenta ela, vier a durar uma semana. "Ao entrar no autocarro, cada um indicará o nome, a idade e a nacionalidade, para que à chegada as associações saibam quem vão realmente acolher." O trajecto de cada autocarro será estabelecido a nível superior.



Zonas de 600 refugiados

No início de Setembro, a distribuição dos migrantes previa que o maior contingente iria para a Região Auvergne-Rhône-Alpes (1.800). A Nova Aquitânia e a Occitânia receberiam por sua vez 1.400 cada. uma. Estes números representam afinal  o total de lugares que o governo pretende impôr às regiões. Por enquanto, Auvergne-Rhône-Alpes ainda só desbloqueou 25%, a Auvergne 33% e a Occitânia 20%...
Entretanto, para que a operação de desmantelamento decorra o melhor possível, a governadora dividiu o acampamento em quadrículas, zonas de 600 migrantes cada, que serão desocupadas uma a uma, após as partidas voluntárias. "Vamos pedir a cada refugiado que desmonte a sua tenda antes de se ir embora", informa a governadora, que pretende evitar ao máximo as imagens de destruição de alojamentos precários. As mesmas que, difundidas pelas televisões do Mundo inteiro, aquando do desmantelamento da zona sul, em Fevereiro passado, mostraram o carácter da operação então em curso e impediram o ministério de aproveitar o ensejo para desocupar também a parte norte.
A governadora, que teve uma reunião de trabalho com todas as associações no passado dia 15, espera tê-las convencido a trabalhar em conjunto com o governo e a persuadir os migrantes que é do seu interesse abandonar o acampamento precário. Persiste todavia uma incógnita: Quem vai ser levado para para o centro de retenção administrativa (CRA)? Em Novembro de 2015 foram reservados lugares em 7 CRA de todo o país. Houve então tantos migrantes em retenção administrativa como em em centros de acolhimento."
Maryline Baumard, Le Monde, 18/19 Setembro 2016, página 10
Tradução e adaptação de António Rebelo

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