quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Bruno-oposição e Bruno-poder

Um eleito do actual executivo, mais precisamente da oposição, lastimava-se há dias que "Este não é o Bruno que conhecíamos; anda com eles ao colo." Peço licença para discordar. Desde logo porque, segundo creio saber, o Bruno só excepcionalmente andou com os seus próprios filhos ao colo, quanto mais agora com os filhos dos outros. Ainda por cima adultos e, pelo menos em princípio, responsáveis pelos seus actos. Que se passa então? Quanto a mim, é simples.
Sucedeu-lhe o mesmo que ao Jerónimo, à Catarina e ao Tsipras. Foram forçados pelas circunstâncias, que a vida está difícil para todos, a envergar o paletó do poder. Por interposta pessoa o Jerónimo e a Catarina, directamente o Bruno e o Tsipras.
Ao envergarem o dito paletó do poder, ostensivamente ou de forma algo envergonhada, deixaram de ser oposição, com tudo o que isso implica. Em Atenas, é o que se tem visto. Um partido de extrema-esquerda -o Bloco lá do sítio- a promulgar e implementar medidas de direita, impostas por Bruxelas mais o FMI, para os gregos não virem a passar fome. Temos portanto o Ciriza-oposição, todo vermelho e o Ciriza-poder, de paletó azul.
Em Lisboa, PCP e BE aceitaram apoiar um governo, que à cautela não querem integrar, por ser muito mais prático e cómodo conseguir arranjar quem faça aquilo que nós queremos, sem termos de nos comprometer. Mas em troca deixaram de incomodar o PS-Costa. Como já sucedia na câmara de Lisboa. Passaram a ser o PCP-poder e o BE-poder, quando antes tínhamos em ambos os casos a versão oposição.
Então e a Mariana? perguntará o leitor mais atento e conhecedor destas coisas. A Mariana procura em Estrasburgo e Bruxelas honrar a memória do seu pai, Camilo, difundindo tanto quanto possível as suas ideias revolucionárias. Tal como tem feito em Lisboa, onde desempenha muito bem o papel de espalha-brasas. É a Mariana-oposição, ajudada pelo vento norte (cantado pelo saudoso Jacques Brel) que sopra tanto em Estrasburgo como na terra do menino que mija e da Rua da Putaria (ver fotos), símbolos de uma cidade e de um povo que nunca se acomodam nem se submetem aos alegados bons costumes. Outros ares, outras vidas, outras maneiras de ver o Mundo. E a Mariana está visivelmente encantada por poder sulcar essas águas no barco da contestação. Vantagens de um parlamento sem poderes, como o de Estrasburgo. Ganha-se bem e ninguém se compromete com a realidade.



E o Bruno?!? O Bruno é um homem inteligente, astuto e prudente, que sabe muito bem o que faz, aquilo que querem que ele faça aqueles que o acolheram na lista, bem como aquilo que não pode fazer de forma nenhuma. Por outras palavras, parece-me que o Bruno sabe bem até onde pode ir demasiado longe, enquanto Bruno-poder.
Como cidadão pagador de impostos, o que me preocupa não é propriamente o apoio do Bruno ao actual executivo, coisa normal em suma. Mesmo tendo em conta a qualidade da relativa maioria PS, que não é muita. O que me apoquenta seriamente é constatar que estão ambos, ele e o poder socialista, a ir na direcção errada. Tal como sucede com a geringonça a nível nacional.
Dou um exemplo. Compraram há pouco, aqui na urbe nabantina, uma máquina varredora que custou um dinheirão (150 mil euros). Agora têm de assegurar a respectiva manutenção e, quando vier a avariar, ou o respectivo condutor estiver com baixa por doença, ficarão outra vez descalços. Como já aconteceu com as anteriores, em tempos idos. (Apesar dos teus erros, descansa em paz, Lino Cotralha!)
Se, em vez de se meterem em despesas discutíveis, tivessem resolvido concessionar os diferentes serviços que agora integram os SMAS, perdiam votos, se calhar. Mas também reduziam pessoal, baixavam custos para os consumidores/contribuintes, melhoravam o serviço e gastavam menos. Afinal, os exemplos abundam, mesmo em Portugal. Aqui ao lado, em Ourém e Leiria, para não ir mais longe. A demonstrar que é tudo uma questão coragem e de modelo de sociedade. E aí encontramos as autarquias que falharam estrondosamente e as que vão de vento em popa. É só indagar porquê. E depois ter a decência de aceitar a realidade, o que implica quase sempre pôr a ideologia de parte. Ou seja: envergar o paletó do poder sempre e quando necessário e vantajoso para todos. E não só quando convém...

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