terça-feira, 1 de março de 2016

O antes e o depois

É uma das principais maleitas locais, a manifesta incapacidade para prever, que demonstram tanto os projectistas como os decisores, políticos ou não. Noutros termos: Tanto os projectistas como os decisores desta desgraçada terra não conseguem ver antes aquilo que depois da obra feita entra pelos olhos dentro. Os exemplos abundam:
1 - Quem escolheu aquela estátua do Gualdim Pais não conseguiu prever que, uma vez no seu pedestal e visto do lado sul, o fundador de Tomar parece estar de pau feito. Pronto para tomar a dianteira, ou mesmo o lado oposto.
2 - Quem projectou as recentes obras da Estrada do Convento, acrescentando o  passeio sem incluir o alargamento da via, não conseguiu prever que, uma vez a obra concluída, deixou de ser possível o cruzamento de dois veículos pesados. O que obrigou a proibir o trânsito de pesados num dos sentidos.
3 - Quem tomou a decisão de proibir o trânsito de pesados na Estrada do Convento, no sentido descendente, não conseguiu prever que ia ser prejudicial para os comerciantes da cidade, pois muitos autocarros com turistas deixaram de vir cá abaixo.
4 - Quem tomou a decisão de mandar projectar e fazer obras nos Moinhos da Ordem, com a finalidade de ali instalar três museus três!, não conseguiu prever que a autarquia nunca teve nem tem recursos humanos nem monetários para semelhante empreendimento. E lá se foram mais 6 milhões de euros em vão...
5 - Quem tomou a decisão de fazer obras no estádio, apesar de engenheiro da especialidade, não conseguiu prever que afinal as verbas disponíveis nem sequer chegavam para fazer os balneários, entre outras coisas.
Poderia continuar, mas para quê? Doenças assim, tarde ou nunca têm cura. Resolvi mencionar tudo isto apenas como intróito para outro escrito sobre a Festa templária.  Outro? pensará o leitor. Pois. Outro. Mas pode sossegar que não vou de novo "bater na ceguinha". Querem a festa em Julho, por causa da "âncora", do Mansor e da previsível grande afluência de público? Pois que seja. Por mim, já disse o que tinha a dizer.



Ficou-me porém uma questão a roer aqui no estômago. Que é esta: Os geniais organizadores já previram tudo o que pode vir a acontecer nesta pobre urbe, lá para meados de Julho? Já pensaram na meteorologia? Já consideraram a hipótese -muito provável- de termos então temperaturas acima dos 35 graus centígrados e noites de ananases? Já encararam o problema dos participantes, com capacetes, escudos, cinturões, cotas de malha de ferro, capas, hábitos, botas altas, archotes a arder e assim? Será que vão aguentar, nas simulações de combates e no desfile? Como tencionam os geniais organizadores ultrapassar estas e outras questões? Vão distribuir toalhas turcas fabricadas na China? Lenços de papel? Garrafas de água? Leques sevilhanos vindos também da China? Ventiladores portáteis?
É pouco provável que cá esteja por essa altura. Se todavia estiver, faço como o cão da foto abaixo. Sei de antemão que, a haver desastre, os geniais organizadores não deixarão de declarar convictamente que ninguém podia prever semelhante coisa. Não há pior cego que aquele que não quer ver. Até porque, acrescentarão decerto, o Mansor também veio cercar o castelo em Julho. Pois foi. Mas vinha de uma terra aonde o clima é bem mais quente que em Tomar. E, tanto quanto sei, os árabes nunca usaram, por exemplo, cotas de malha de ferro, nem archotes em Julho...


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