quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Uma asneira monumental

Na contrastada herança dos mandatos Paiva/PSD avultam dois erros monumentais, maiores que o Convento de Mafra, como se sabe o mais extenso do país. Refiro-me à destruição do estádio municipal e ao agora pomposamente chamado "Complexo museológico da Levada". O problema começa logo aí, no nome usual. Moinhos da Ordem? Lagares d'El-rei? Complexo da Levada? Seja como for, a evidente megalomania paivina vai continuar a atormentar os tomarenses mais conscientes. A começar pelos autarcas que tenham a coragem de pensar um bocadinho, antes de abrirem a boca para debitar vacuidades.
Foi o que fez recentemente a nossa simpática e bem apresentada presidente. Falou do dito conjunto da Levada, referindo que não havia plano museológico, mas que vai haver e que entretanto  vão aproveitar as instalações para ali levarem a efeito alguns eventos. Designadamente concertos de jazz. Concertos de jazz! Num conjunto cujas obras, ditas de recuperação e requalificação, custaram até agora a bagatela de 6 milhões de euros. Como se antes não existissem já múltiplos locais adequados para tais manifestações musicais.


O problema é porém bem mais grave. Trata-se, sem exagero, de uma asneira monumental e praticamente sem remédio capaz. Obnubilado pelos fundos europeus e sobretudo pelas facilidades para os obter, o então presidente Paiva nem sequer se deu ao trabalho de pensar um bocadinho, de forma serena, antes de agir. Se o tivesse feito, concluiria que: 1 - No Mundo inteiro, só os principais museus -os chamados mastodontes, tipo Hermitage, Louvre, Moma, Prado ou Galeria dos Ofícios- são rentáveis. E mesmo assim só graças aos mecenas patrocinadores. Todos os outros vivem dos impostos cobrados pelo fisco. 2 - Em Portugal nenhum museu é rentável, ou consegue sequer fundos suficientes para o seu funcionamento. Nem mesmo o Museu Nacional da Arte Antiga (vulgo Museu das Janelas Verdes), cujo recheio provém da pilhagem pelo estado de obras de arte em vários monumentos do país, incluindo Tomar, com o pretexto de que iam para restauro e voltavam. 3 - O Museu da Cortiça, na Fábrica do Inglês, no Algarve, recebeu num ano o prémio de melhor museu europeu e no ano seguinte fechou definitivamente, por inviabilidade económica. Apesar de o Algarve ser a principal região turística portuguesa. 4 - O "Conjunto museológico da Levada" não tem qualquer viabilidade prática nem económica, por se tratar de um evidente projecto megalómano visto que: a) - Não dispõe de parque de estacionamento, nem de local para o instalar; b) - Não há condições para os autocarros deixarem ou tomarem os visitantes com relativa segurança sem empatarem gravemente o trânsito; c) - As obras feitas não incluíram recursos técnicos e de segurança (portas párafogo, corredores de evacuação, corredores de visita, plataformas de explicação, vedações protectoras, etc.), que todavia são obrigatórios, em conformidade com as normas europeias, tanto mais que se prevê a futura visita de crianças das escolas, (Se aquilo alguma vez vier a funcionar, o que me custa muito a crer); d) - Se isso vier a acontecer, a ASAE pouco tempo de vida lhe dará, caso pretenda cumprir cabalmente a sua missão; e) - Não conheço no país nem na Europa qualquer museu polinuclear, como o que ali se pretende que venha a funcionar; f) - Tendo em conta o exposto no ponto anterior, é evidente que o país não dispõe de recursos humanos qualificados em termos práticos nessa área, por óbvia carência de experiência anterior.


Se apesar de tudo isto e mais ainda, por nítida falta de coragem política, os autarcas que temos insistirem em pôr aquela geringonça a funcionar, como parece tentar fazer a nossa simpática e aparentemente despachada presidente, de onde contam obter os recursos orçamentais para garantir o pagamento dos vencimentos de pelo menos mais uns 30 funcionários, alguns deles técnicos especializados, com remunerações superiores a 3 mil euros mensais, como não poderá deixar de ser?
Estou a exagerar com os 30 funcionários a contratar? No Convento de Cristo estão 37 e aquilo não constitui propriamente um modelo de gestão turística, com os visitantes a queixarem-se de que pagam 6 euros à entrada e depois ninguém lhes explica nada...
Que fazer então?!? Pensar, meditar, suputar, matutar, magicar. Instalar ali a associação dos antigos da Mendes Godinho. Entregar-lhes as chaves de todo o conjunto, para que possam mostrar aos raros curiosos que se apresentem..Apagar as luzes, incluindo os projectores além rio e aquelas pacóvias lâmpadas vermelhas nas outrora saídas de água. Esquecer essa megalómana e fantasista ideia dos três museus (fundição, electricidade, moagem) até melhor ensejo. É indiscutivelmente a solução mais barata, mais sensata e prática. Essa história do "projecto museológico" é apenas mais um encargo orçamental sem qualquer utilidade prática. Pelo menos nos tempos mais próximos.
Por tudo isto, peço-vos encarecidamente, senhores autarcas, que não sejam teimosos. Remando contra a maré o barco praticamente não anda. E as dívidas da autarquia já ultrapassam os 30 milhões de euros. Com os infelizes credores a esperarem meses pelos pagamentos que tanta falta lhes fazem...

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